domingo, 17 de junho de 2012

Second chance


Era uma vez duas criancinhas pequeninas e inocentes que sempre foram muito unidas. Passeavam juntos, descobriam as grandes cascatas de água de Oslo perto daquelas magníficas e deslumbrantes pradarias, brincavam na neve, sonhavam juntos, partilhavam o amanhã. A rapariga, Anni, tinha uns olhinhos tão azuis e tão bonitos como o mar, sardas, pele tão clara como o gelo que inundava o seu país e lábios tão vermelhos como as pétalas de uma rosa. Toda ela era uma rosa. Uma verdadeira branca de neve. Já Eirik, o rapaz, era diferente, muito moreno, pois os seus pais vieram de Itália. Tinha olhos castanhos e cabelo castanho escuro. Contudo, apesar das diferenças entre os dois, sempre se apoiaram em tudo e sempre estiveram juntos. Uma verdadeira amizade...
Até que, chegada a fase da adolescência, Anni apaixonou-se por um skater. Era muito bonito, um encanto. Loiro de olhos verdes, completamente desportista, com uma vida boémia e amava Anni como nunca amara ninguém. Tinha uma insaciável sede pelo seu corpo, pelos seus longos e encaracolados cabelos negros, pelos seus lábios que transbordavam sangue de perfeição. Sangue real, mas que nunca o fora. 
Dado a situação, contou tudo a Eirik, porque pensava que ele ficaria feliz por ela. Oh, ele iria adorar! Porém, o inesperado aconteceu, e Eirik revelou o segredo que sempre guardou consigo desde pequeno, bem lá no fundo do seu coração - ele sempre a amou, sempre a quis beijar, sempre ansiou o seu corpo, os seus lábios e os seus olhos. E quantas e quantas vezes dormiram na mesma casa sem Anni saber o que se passava! 
Mas a rapariga recusou.
Recusou por teimosia.
Recusou pelo corpo do seu namorado.
Recusou porque também sempre teve esse sentimento por Eirik, só que fora cedo demais.
Recusou "porque sim", e foi a única explicação plausível dada ao rapaz.
E, com tudo isto, aquela forte e soberba amizade apagava-se aos poucos. Não mais falavam, nem mais riam juntos. 
Até que Anni acordou. percebeu que o skater não tinha mais nada para lhe dar, e a sua teimosia desvaneceu-se. Então, o véu desfeito que separava os dois "amigos", voltou a ser o que era e a menina percebeu que estava completamente, loucamente e inacreditavelmente apaixonada por Eirik.
Mas ele recusou.
Recusou por orgulho.
Recusou por não querer voltar a sofrer.
Recusou porque era tarde demais.
Apenas recusou, mas ainda a amava, e muito. Ainda queria o seu corpo, ainda ansiava pela sua alma.
E nunca mais se falaram. Nunca mais se olharam nos olhos. Nunca mais brincaram juntos na neve, nunca mais descobriram o amanhã.

Passados muitos e muitos anos, Eirik, ainda solteiro, ligou a televisão e viu um anúncio de um concerto de Anni perto da sua casa. Tornara-se numa pianista famosa, um novo Chopin. Que alegria de a voltar a ver!
Rapidamente, pegou numa rosa vermelha do seu quintal, e foi ao concerto. Chorou. Também tinha direito. Chorou quando a ouviu tocar, quando descobriu o que perdera, quando voltou atrás e reencontrou aquele sorriso que sempre brilhou para ele. E soube logo o que tinha de fazer.
- Claire, por favor abre a porta.
- Estou a ir minha senhora! - Disse apressadamente a ama dos filhos de Anni.
E abriu a porta. Os olhares encontraram-se outra vez. A saudade escorreu pela face da pianista. Abraçaram-se e ele deu-lhe a vermelha rosa para ficar sempre junto do seu coração.
- Perdoa-me Anni, é tudo o que te peço. Eu amo-te... sempre te amei!
E Anni chorou torrencialmente. Não sabia o que fazer, o que dizer, ou até o que pensar.
- O que se passa amor? Quem é a visita? - Ecoou uma voz vinda do piso de cima, que lentamente foi descendo as escadas.
Era o marido da rapariga. Abraçou-a e beijou-a na testa. E Eirik percebeu tudo. Nada mais podia fazer naquele momento. Foi-se embora.

No dia seguinte, eles voltaram a encontrar-se na rua. Por destino talvez? Enquanto já ia cada um para o seu caminho, Anni voltou atrás:
- Espera Eirik!
Silêncio.
- Eu não vou voltar a fazer o mesmo erro. - disse desesperadamente a rapariga.
Dito isto, correu para junto dele e beijaram-se pela primeira vez.


Lia.

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