sexta-feira, 15 de junho de 2012

Baile de máscaras


E acordei. Foi um bonito sonho, para quem dizia que não estava apaixonada. Seria verdade, ou apenas mais uma façanha do meu coração?
Lembro-me de muito. Situava-me no verão de 1900, numa época maravilhosa. Época de grandes vestidos, de poemas, de amor, de sonhos - a Belle Époque. Lembro-me que tinha ido a um majestoso baile de máscaras de um mercador rico de Lisboa, amigo do meu pai, e que tinha levado aquele meu vestido de cetim, rodado, comprido. Dava-me pelo calcanhar, e as bonitas manguinhas em forma de balão caíam-me pelos ombros, suaves como pétalas de uma rosa branca. Toda ela enaltecida de rendas e rendinhas que davam vida à obra. Fora comprado nas mais caras lojas de Paris, e por isso, muito admirado por todos naquele festejo. Também levei comigo uma máscara branca, que me cobria a face e as rosetas, feita de penas de cisne luxuosas. Completamente sedosas. Perfeitamente sedutoras.
Enquanto dançava sozinha ao som de Debussy, Chopin e muito romantismo, um rapaz foi ter comigo. Sabia que era diferente. Tinha olhos muito azuis e um cabelo tão loiro e brilhante. Porém, não conseguia ver o seu rosto, pois também estava coberto com uma máscara de tom azul escuro, quase semelhante ao preto. Cuidadosamente, fez-me um pedido. Pediu-me para dançar com ele, mas não em português. Uma nova língua. Alemão, talvez?  Claro que era, sabia que sim. Percebi tudo, pois estive na Alemanha durante dois anos e captei muito bem a língua. Rapidamente, aceitei e começámos a dançar. O palco era nosso. Os outros convidados preferiam ver-nos dançar do que propriamente fazê-lo. Talvez por sermos um par tão perfeito, na minha opinião. Cautelosamente, cada passo, cada gesto tentava assegurar-se de que não magoaria o outro. Até que, já no áus daquele clima, e passados longos minutos e longos passos de dança, ele puxou-me na sua direcção, e ficámos encostadinhos um ao outro. Senti-me feliz, pela primeira vez em muito tempo. 
Até que a ilusão terminou, a música parou. Graciosamente, fiz-lhe uma vénia e ele sorriu para mim. Naquele momento, apaixonei-me por aquele sorriso.
E passámos o resto do baile a trocar olhares. Ficávamos felizes apenas de o fazer. 
E sorrimos.
E o baile acabou. Contudo, para muito do meu espanto, no final, quando eu estava à espera do meu pai, ele pegou na minha mão e esvoaçámos ao longo das docas. Vimos o mar. Ele raptou-me de uma forma tão doce... Raptou primeiro o meu coração.
Estivemos muito tempo na praia. Eu, com o meu longo vestido, fui à beira mar. Senti-me em casa. E, quando nada mais tínhamos para dizer um ao outro, atrevi-me e retirei-lhe a mascarazinha. Que amor! Que anjo! Ele era simplesmente... Lindo, um príncipe. O príncipe herdeiro da Áustria, com uma branca pele e faces rosadas, sardas e sardinhas. Quanta beleza que Deus lhe deu que nunca vira ninguém assim. 
Depois de lhe tirar a máscara, ele fez-me o mesmo, e aos poucos e poucos, os seus olhos foram brilhando cada vez mais para mim.
Até que, por volta da meia noite, juntamente com ventos a congelarem tudo e todos, ele aproximou-se novamente de mim, mas desta vez com um pouco mais de confiança, e beijámo-nos ao som do luar. A música da noite - o uivar. Ao som daquela noite recheada de esperanças e desejos. 
E assim nos tivemos um ao outro, o que sempre quisemos desde aquela dança. Aquele aperto de coração. Senti-me novamente feliz, livre, principalmente naquela praia que parecia não ter fim, nem recear os ventos malignos que destroem a mais ínfima pedrinha.
Como eu costumo dizer - feliz, ao lado de um anjo.

Lia.

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