segunda-feira, 11 de junho de 2012

An Angel II


No inicio, consigo ouvir a sua voz. É melodiosa, como a de um pequeno rouxinol cantando ao amanhecer, com um toque de esperança, mas não é humana… é tão bela que sinto as árvores dançarem ao seu som. Sinto-as a sorrir para mim. Sinto-as partilharem comigo a sua alegria, o seu afecto. Sinto-me meio zonza, com muitas tonturas. Tonturas de felicidade. De seguida, liberto a minha mente. Liberto-a de todos os meus receios, de toda a minha ansiedade. Apenas quero ver o portador da voz, quero ver como ele é. Estou curiosa, deslumbrada, enfeitiçada… enfeitiçada por aquela voz masculina, que me chama. Ouço-a aproximar-se cada vez mais… o meu coração está a palpitar tão depressa, que quase que não consigo respirar. Sustenho a respiração por uns instantes, mas parece não valer de nada…
Estou perto de um lago. Sinto o romper da primavera. Cheiro o odor da relva molhada, da neve a derreter, do começo. Até que, diante do luar sepulcral, vejo um rapaz. Estou enraizada ao chão, o meu corpo não me obedece. Abro um pouco a boca, mas não me ocorre nada para dizer, pois nenhum adjectivo é indicado para descrever o que vejo… á minha frente, a poucos metros de distância de mim, está um rapaz com um tom de pele claro, como se apanhasse as estrelas e as colocasse no seu corpo branco, brilhante, magro, sedutor… tem um tom de cabelo muito… talvez curioso seja a palavra certa: é de um tom loiro escuro, com algumas madeixas ruivas. E os olhos… bem, os olhos são tão verdes que conseguem focar o olhar de todos. Tão deslumbrantes que qualquer rapariga, mesmo a mais bela, ficaria encantada, enfeitiçada, como me sinto agora… veste-se com uma cor tão branca, que me encandeia os olhos.
Ele pára. Ele move-se novamente ao meu encontro, e só nesse momento consigo ver as suas asas. São esbranquiçadas, um pouco pérola. Não tão brancas quanto as roupas. Feitas de suaves e leves penas que nada se parecem com as de uma ave. São mais brilhantes. Mais espantosas. Mais únicas…
 O seu corpo está mais perto do meu. Eu, ouvindo o coração, vou mais para junto dele. E aí, olha-me com os seus grandes e mágicos olhos verdes. De repente, sinto um arrepio. Não de frio, mas de dor, angústia, perda. Sinto-me sozinha, vazia. Recuo o meu olhar para o chão.
- Calma. Está tudo bem. Estou aqui… - diz-me ele, sorrindo, e com a sua voz pura, tranquila, harmonizada.
Toca na minha face. Tocamo-nos pela primeira vez. Aí, sinto uma alegria intensa, e uma lágrima escorre-me pela cara. Começo a sentir uma certa ansiedade… ansiedade de o ter… desejo de o beijar… estou perdida nos meus pensamentos, até que os seus lábios ficam bastante perto dos meus. Quando me apercebo, o meu coração evade-se de uma estranha e curiosa emoção, uma que nunca antes sentira. De uma emoção bastante forte, de um sentimento bastante perturbador… sinto-me como se não existisse o amanhã. Preocupo-me apenas com o hoje, o agora, o momento, pois, de certa forma, iria beijar um ser sobrenatural.     O rapaz mais perfeito que alguma vez conhecera.
Um anjo…
De repente, acordo.
Não é a primeira vez que sonho com ele. Desde á duas semanas para cá que o sonho por volta de dois em dois dias. Sempre o mesmo sonho. Sempre o mesmo rapaz. Sempre a mesma esperança, a mesma emoção, que depois nunca acaba por se concretizar por completo…
Estou curiosa. Tenho tantas perguntas a rodearem-me. Tantas perguntas sem uma única resposta. Tantas perguntas que se aglomeram apenas numa só: será que algum dia o conseguirei beijar?

Lia.

Sem comentários:

Enviar um comentário