terça-feira, 31 de julho de 2012

Naufrágio


Se foi na praia que nos vimos pela primeira vez,
se foi no mar que começou toda a paixão,
então o pôr-do-sol é a minha alma
e o mar todo o meu coração.

As gaivotas sussurravam, implorando
ao vento qualquer compaixão.
As ondas, puras e cristalinas
esbatiam o famoso sol de Verão.
E eu, sentada na areia,
tive uma bizarra visão:

O mar revolto e teatral
mostrou toda a nostalgia profana.
Estava a nadar, e, de repente
o mar quis-me,  devorou-me...
a parte triste de ser humana.

E, quando finalmente desisti
de todos os sonhos concretizar,
Um corajoso rapaz eu senti
levar-me para longe do mar.

O primeiro beijo me deu,
desespero, ao tentar me salvar:
o duro naufrágio aconteceu
mas ele lá estava para me resgatar.

E quando finalmente acordei,
uma estranha língua ele soletrou.
Uma mistura de alemão e inglês...
de certeza que era holandês.
Fiquei encantada com a sua face,
um anjo não português.

Passados minutos a visão acabou,
e tudo novamente recomeçou.

E aí descobri que não são as palavras
que descobrem paixões, mas sim
os momentos de sonho perto do céu.
Um céu que esteve tão perto de mim.

E quando tudo terminou, um vazio
preencheu-me, um olhar
vadio e boémio vinguei
ao cruel, mas doce mar.

E algumas loucuras disse sobre
o holandês que me tem feito sofrer:
"Ele é o homem da minha vida.
Será que o vou voltar a ver?"

Lia.

domingo, 29 de julho de 2012

Snow White and the Huntsman


Esta é uma nova versão da Branca de Neve inventada por mim. Tem o mesmo título do filme da Kristen Stewart porque se adequa muito bem neste caso, mas não têm nada a ver um com o outro :)

Esta é a historia de um princesa
de uma incondicional e extrema beleza.
Os seus lábios, vermelhos como uma rosa,
a sua face tão branca, a fragrância leve
e os cabelos negros como um corvo
faziam dela a Branca de Neve.

Fora ensinada desde cedo para governar
mas desde cedo que o começou a amar.
Era um pobre rapaz do povo,
ela sabia que juntos não podiam ficar.

Apesar das grandes diferenças,
cresceram na humilde esperança
de um dia casarem em paz,
do rapaz ao reino ganhar a confiança.

Até que um dia, os doces lábios da rainha
escureceram para sempre, e o rei
deixou-se encantar por uma víbora
que no reino implantou a sua lei.

A nova líder matou o pobre rei
e aprisionou a sua preciosa.
7 anos Branca de Neve esteve presa,
mas, aos seus encantadores 18 anos
tornou-se perfeitamente bela e formosa.

A madrasta, ao  finalmente constatar
que Branca tinha atingido a maturidade,
ao reflexo perguntou: "Espelho meu,
haverá alguém mais bonita do que eu?"

"Lamento informar-te meu amanhecer...
Infelizmente, meu néctar do doce viver,
aquela com rosas em vez de lábios, branca
pele, cabelos de corvo, a face
da mais bela te arranca..."

Com a triste e cruel resposta,
a víbora tomou uma decisão.
Ao caçador pediu lealdade
e de Branca o seu tenro coração.
Contudo, apesar de todos os avisos,
o pobre homem caiu em tentação.
Em vez de pedir uma exuberante riqueza,
preferiu ficar com a grande e velha paixão.

E assim protegeu a sua princesa.

Passaram dias juntos, os amantes
trágicos do curioso destino,
(apesar de tudo, ele prometeu
amá-la para sempre quando era menino,
quando o primeiro beijo dela colheu)
e encontraram uma pequena casinha.

Bateram à porta, mas ninguém
estava em casa, ninguém compareceu.
Até que, por detrás do casal
um pequeno rapaz apareceu.

Era um anão, e atrás dele
estavam mais seis companheiros.
Ao terem descoberto quem era Branca,
foram simpáticos e muito hospitaleiros.

Ao longo do tempo, os sete anões
foram sentindo uma estranha sensação.
A princesa despertou neles
uma quente e proibida paixão.

Os vermelhos lábios da rapariga
faziam os seus olhos palpitar.
Sempre que podiam, o mundo paravam
para ela ao natural poderem imaginar.

Mas, apesar da feliz vida que viviam,
essa felicidade teve de acabar.
A rainha descobriu que Branca estava viva,
e imediatamente partiu para a matar.

Aprisionou os anões, e com um som vitorioso
disse que não mais os incomodava
se uma maçã a Branca dessem a comer
para ela ao veneno não sobreviver.

As pobres criaturas aceitaram, mas não
com a intuição que ela lhes tinha dado.
Ao maior rival deram a maçã, e o caçador
mergulhou no sonho que não lhe estava destinado.

Branca de Neve ficou a salvo,
mas não com o desejo de viver.
Sentia-se sozinha e desesperada
ao senti-lo lentamente morrer.
E aí, os anões finalmente perceberam
que não deviam de tê-la deixado sofrer.

Enfim... para a alegrarem, descobriram
uma moderna maneira de o salvar:
para eles terem um final feliz,
Branca tinha de o beijar,
porque só com o beijo do verdadeiro
amor, ele conseguia acordar.

E assim foi, ele acordou
para toda a eternidade a amar.
Sem mais demoras, um exército juntaram
e o castelo da víbora tomaram.
Branca recuperou o seu trono
e meses mais tarde se casaram.

Viveram felizes para sempre,
porque juntos a morte superaram.

Lia.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Caveira Esquilar


Todos os domingos lá entro na
a grande aventura, de Lisboa
até Setúbal, para ensaiar
com a minha banda - A caveira esquilar.

Apesar dos 35 anos que carrego,
o meu sonho sempre será cego:
a fama conseguir alcançar.
E até que a voz me doa,
hei sempre de querer cantar.

Ensaiamos num quarto de sonho
para a música bem equipado.
Á direita, uma colecção de guitarras
e uma retrete sem papel do outro lado.

Naquele quarto ninguém é normal.
O baterista está sempre a dizer piadas
secas, e o guitarrista, quando toca,
tem uma estranha expressão facial.

E nem ouso falar do baixista...
usa sapatos góticos de cunha,
é bochechudo, usa correntes,
e uns óculos redondos sem lentes.

A nossa banda é alternativa
e a mascote é um querido esquilo.
Um dia, o animal iremos matar
para a sua caveira emoldurar
e o grande símbolo nos concertos mostrar.

Apesar da banda ainda ser nova
ainda temos muito para dar.
Apesar de, por vezes, o guitarrista
se esquecer por segundos das notas,
ao vivo haveremos de arrasar.

Lia.

 Dedicado à Susana Correia.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Pescador


Que quente praia, onde vivi
a maior alegria que já senti.
Tudo era mágico, encantador,
tal como ele e o que vivemos ali.

Era tarde, escurecia,
mas já não no meu coração.
Ele só com o grande sonho batia
de sair de vez daquela prisão.

Queria ser uma gaivota e poder voar,
sentir a brisa, saber que posso confiar
no vento, mas as asas não cresceram
e o vento não me quis ajudar.

Queria ser um golfinho, conhecer a riqueza
do oceano, bem longe, apenas nadar.
Porém, por muito que tivesse pedido,
debaixo de água não consegui respirar.

Queria ser algo mais, e não apenas
uma rapariga na praia a estudar.
Como era Outono, nada mais podia ser
e apenas continuei a trabalhar.

Até que vi um vulto... Uma mulher?
Não! Um bonito homem a pescar.
Adolescente... Como pode ser?
A pobreza chegou até ao mar.

Ajudei-o a desenlear as redes
e descobri que ele sabia cantar.
Tinha uma voz maravilhosa, inglesa,
e um belo e doce sussurrar.

Três vezes ele sussurrava,
três vezes eu sorria.
E quando chegou o momento
disse-lhe que também o sentia.

Depois disso uma gaivota
ou um golfinho não mais quis ser
porque com ele era livre,
ele permitia-me viver.

O fantasma em mim morreu
e todo o passado com ele ardeu
para uma nova época rejuvenescer.

Lia.