terça-feira, 21 de agosto de 2012

O meu melhor amigo

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Já tinha saudades dele, do seu desleixado e constante sorriso que nunca falhou, que sempre a esperança irradiou com uma inocência maravilhosa, juntamente com o seu olhar de um louco sonhador que nunca chegou a alcançar algo mais que isso. Já tinha saudades das suas piadinhas sem graça nenhuma sobre mim e sobre como falo. Um gozo jovial que também me faz rir imenso. Uma voz incrivelmente doce, diferente de qualquer outro rapaz que conheço. É um perfeito conhecedor de si mesmo, e mesmo até do mais profundo átomo do meu ser. Por isso, descobre sempre quando algo não está devidamente encaixado na minha vida. E, quando um grande temporal encobre o meu coração, ele consegue sempre dissipá-lo e assim transformar-se no meu herói. Afugenta-o apenas com palavras diferentes e cheias de vida, de brilho, de amor, que logo rejuvenescem a minha alma, reacendendo devidamente a pequenina chama esquecida no abismo da abstracção. 
A sua altura incomoda-me imenso, devido ao facto de ter de olhar para cima sempre que quero falar com ele, mas penso que até lhe fica muito bem, não o imaginava mais perfeito de outra forma. Oh! Quanto tempo passou! Já está um homenzinho, já tem barba, já gosta de fazer tudo aquilo que os outros rapazolas fazem, mesmo sem nada ter a ver com eles.
E, mesmo assim, o mais curioso sobre ele é o facto de estar sempre a sorrir. Não sei porquê, mas a felicidade não o deixa nem por um segundo, como se fosse uma sombra, com uma missão de resgate ás almas perdidas e esquecidas pelos outros... antes de tudo, pensei que ele fosse um anjo enviado por Deus, devido a alguma das minhas preces de socorro, de piedade e de um dos meus doze desejos da passagem de ano, ou até mesmo um extra-terrestre do planeta maravilha. Há alguns meses atrás, descobri finalmente a palavra certa para o caracterizar, um pouco mais real. Ele é simplesmente... uma espécie de ser humano raríssima, em vias de extinção e muito difícil de encontrar nos dias de hoje - o meu melhor amigo.

Dedicado ao Miguel Costa.

Lia.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Soneto - Rapunzel



Cá estou eu, a olhar novamente para o céu,
para as estrelas que iluminam a minha esperança.
Espero um nada que nunca, jamais há de vir
mas continuo a sonhar como uma simples criança.

A Rapunzel apenas sou, na prisão do meu passado,
dos medos e das angústias que comigo tenho arrastado.
Canto para o vazio, para o meu príncipe encontrar,
um príncipe com coragem suficiente para me levar.

Porém, é inútil. Ninguém me vem buscar.
No meio da escuridão continuo a viver,
a amar um príncipe que nunca cheguei a conhecer.

Assim não consigo daqui sair sozinha
porque nem o meu cabelo me consegue salvar
dos inúmeros minutos que tento esquecer.

Lia.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Cenários impossíveis




Eu sei. Sempre soube que os versos não eram para mim, apesar os de ler com aquela vida, aquele brilho no olhar, aquela esperança de algum dia poder encarnar o papel da Rose, ou até da pequena Julieta. De os viver com tanta inocência e tanta coerência. Porém, eu sou assim. Apenas uma boémia sonhadora que gosta de imaginar - cenários impossíveis -, que gosta de fazer da vida um filme que nunca irá para a bilheteira. É como uma droga que me consome, que queima lentamente toda a minha sensibilidade. Sinto-me tão bem quando o faço, sinto que todas as noites alguém adormece a pensar em mim, a pensar em nós. Fecho os olhos por momentos. Os momentos mais felizes do dia, - cenários impossíveis. Imagino o seu sorriso, o olhar inquietante, os lábios a viverem e o coração a palpitar, como se pudesse ganhar asas e voar para dentro do seu coração - cenários impossíveis. De seguida, acordo. Olho ao meu redor e vejo que nada é verdadeiro. Um balde de água fria. Fico triste, só, sem ninguém, novamente.
E depois começo a sonhar mais uma vez, só para sentir um pouco de felicidade. Apenas - cenários impossíveis. Só para sentir que esta vida não foi dada em vão. Eu sei que nascemos para sermos felizes e para dar aos outros esse tão desejado dom. Eu sei que vivemos para sermos amados e não só para amarmos. Eu quero voltar a amar outra pessoa, mas os seus versos são a minha corrente. Perdi tudo – as asas, o coração – apenas para ouvir um pouco da sua voz interior. E, apesar de saber que, se continuar a viver assim não terei hipóteses de sobreviver, prefiro viver o pouco tempo que tenho a imaginar - cenários impossíveis...

Lia 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Forget



Esqueço o momento, esqueço tudo, as saudades que tenho da tua voz.
Esqueço o alento, esqueço o mundo imaginário que criei de nós sós.

Esqueço a esperança, esqueço a vida que criaste no meu olhar.
Esqueço a pobre criança esquecida que em mim ajudaste a encontrar.

Esqueço as irrepressíveis horas perdidas para uma frase te dizer.
Esqueço as inesquecíveis palavras sentidas que me deste a conhecer.

Esqueço as viagens por toda a Europa que sempre me prometeste.
Esqueço as imagens do sonho onde o casamento me propuseste.

Esqueço a boémia poesia que, com amor, escrevias para mim.
Esqueço a triste agonia quando ambos descobrimos o fim.

Apago todas as tuas memórias para finalmente voltar a viver,
para o teu perfume, os teus lábios e tudo em ti poder esquecer.

Lia.

domingo, 12 de agosto de 2012

A outra



A minha esperança está a arder. Consome-se a si própria com cada vez mais velocidade. Tento olhar para outro lado, mas a chama está cada vez mais alta. Procuro-o para o salvar do incêndio, mas ele está ocupado a pensar na segurança da outra. A outra! Aquela que sempre quis o que não devia. Depois, ouço ignorâncias. Espalham-se pelas entranhas do meu corpo e não me deixam mexer para ele saber a verdade acerca de mim. E morro lentamente, vendo-o salvar a outra. Vendo-o com um olhar de amigo preocupado a afastar-se. Apenas um olhar de amigo preocupado. 
E fecho os olhos. Vejo-nos em Viena, a cidade da música, a minha cidade, a nossa. Estamos tão bem juntos, sem a outra. Sempre sem a outra. Até que o sonho se torna num pesadelo. A víbora aparece. Asfixia-me, não consigo respirar. Os meus lábios vermelhos tornam-se cinzentos. O bonito torna-se feio para mim e para ele. Eu confiava nela, e a confiança só se ganha uma vez, mas esse não é o problema. O pior mesmo é o facto de ter tido esperança, e agora é ela que me consome. A esperança é igual à outra - "o que é demais enjoa"...
Porque estará ele cego? Terá ela um poder sobrenatural para o fazer? Talvez esse seja o problema. Eu sou normal, a outra não! 
E depois de tudo isto, ainda me humilham diabolicamente! Anteriormente, tinha o prazer da escrita boémia como consolação. Agora, nada tenho nem nada consigo ter, pois ele roubou toda a minha vivacidade e principalmente o que sobrou do meu coração para dar à outra como presente de casamento...

Lia.

Soneto - Voar

Se eu pudesse voar, voava.
Asas ganhava e deslizava como um falcão.
Voava para longe, para sozinha ficar
porque as asas são o espectro da solidão.

Voava para não fundir com o calor
desta velha, eterna e mísera paixão.
Voava alto, para ninguém me proibir de sonhar,
pois as asas são o espectro da ambição.

Voava e não voltava para ninguém incomodar.
E, para o carinho (ao menos) de uma estrela ganhar
voava em direcção ao grande clarão.

Conseguia ser feliz se voasse,
feliz sou sozinha e sem coração,
somente com asas, e a sombra da ilusão.

Lia.

Imortalidade


A sua face conjugava lendas de
virgens céus e silêncios arrepiantes,
a claridade de uma triste infância,
sombras de ouro e tentação,
cintilações de horas milagrosas
e o egoísmo da eterna paixão.

Escapou à morte no vale de
luz filosófica e vertiginosa.
As asas são a sua corrente,
pois todo o espírito ofereceu
em troca de um lugar no céu.

Uma mulher profana e escravizada
tornou-se na grande ponte de sonhos
de cristal curvilínea, afundada
na veemência da noite e do prazer.
Tomou nas costas terraços de templo,
histórias e letras mesmo sem saber.

Oh! Classicismo verdadeiro!

Os lábios e os provérbios populares
faziam dela um rio inundado de prata,
um sol-da-meia-noite de todos os sete mares.

Lia