terça-feira, 12 de novembro de 2013

Escrava da perfeição



E aqui estou, escrava da própria perfeição. Escrava dos números, das letras, da paixão. Das horas de estudo, do tumulto do mar, de esperanças que ardem e de sonhos a naufragar.
Hoje ainda não a vi. Quem? A felicidade, a escrava da boemia. 
Pois! Queria... Queria eu ser Deus, roubado ao horizonte, a noite eterna do amor.
Só que não. Sou demasiado sol ardente que se consome com a própria dor.
Só que sim. Sou brasa de satã pequenina como uma flor.
Sou diva pintada em quadros de embalar, sou atum enlatado em jogos de brincar.
Pois. A magia sempre vem com um preço.
Dança, juventude! Dança que vou esperar... Tu e promessas que não devo tolerar. Dança, beleza! Porque não te exilas também? Tu, paixão... Porque não morres de desdém?...
E tu, espelho? Teu dever era ser um amante leal. Contudo, continuas a fazer-me mal.
Sonho mil amores insensatos, mil estrelas eu quero ter. E olho para ti, céu. Porque não mas dás? Porque serei eu obra de Satanás?
E vou rimando com o vento de lá de fora... Tic-tac, está quase na hora!!
Serei eu ninguém??...A rapariga que tem de ter dezanove a português, que nunca o conseguirá devido a um teste de desasseis e que chora desalmadamente como se não houvesse um amanhã.

A pior escravidão no mais negro coração.

Lia.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Bullying interior



Tenho a chaga do amor, tenho a chaga da vivência.
A antiga canção de dor apaga toda a inocência.
O demónio é a luz, a água vagabunda,
a vodka no inferno e o feitiço de incoerência...

Ó guerra, ó ódio, ó lógica inútil,
mas quem és tu para poderes entrar?
Cortas, secas, vives de fruta mole,
de maldade de outros e de contos de engatar!

Revolto-me contra números e contra ti,
contra a beleza transcendente, sorriso imortal.
Revolto-me contra todo o universo em si...
Revolto-me. Pois não paras de me fazer mal.

A sonata não renasce, não pode renascer
de cinzas do passado que não me deixam viver.
E aqui te peço, lógica, morte. Sê como eu...
Sê o que antes eras: boémia e fria como o céu.

Tal céu onde Deus morre, queimado
pelos gritos de sufoco e por minha dor.
Oh anjo, onde te escondes nesse teu véu?!
Eu quero voltar a ter a minha luz interior!...

Lia.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Nárnia


Finalmente a humanidade eu encontrei. Tiraste-me a apatia, tu e essas tuas sardas que me matam, esses teus olhos cor de mar, um azul incandescente que me sufoca e que arde como duas estrelas em formação. Esses lábios de rosas e de sonhos arrancam a minha utopia, e, cada vez que te vejo ardo no inferno mais profundo do meu olhar.
Oh... E esse cheiro... Exótico! Cessante, selvagem! Escondido na boemia, reflectido na orla do bosque, no cume mais alto da montanha. Esse teu sabor a laranja mascarrada, o toque a floresta desgrenhada. Pois... A sereia anseia por matar e o homem quer ir ao mar. Bosque? Mar? Preciso de ti em todo o lugar.
Então?! Parece que chegámos a Nárnia! No guarda-roupa se esconde a maior emoção. Cor de mel, cor de céu, cor de Deus. O respeito e a paixão e a tua alma de mar, de vento... Dizem que os olhos a comandam, deve ser por isso mesmo que nunca estarás comigo por completo, és demasiado complexo para resistires às forças da gravidade.
Claro... O fado. A nostalgia extridente... O passado é a minha cegueira, a realidade é o sonho. Contudo, o presente está menos ambíguo contigo a meu lado. A estética menos obscena e a política menos fútil de um governo maior. Será por muito tempo?

O heterónimo da Lia.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Cancro



Truz-truz. Está alguém
a ver a janela de ninguém.

O branco sol baila no céu...
Volto a Dezembro outra vez.
O bouquêt congela, e meu véu
mais branco fica neste mês.

Eles esperam, sem esperança
a neve e o crivoso casamento.
Eu choro como uma criança
e o vestido morre com o vento.

Truz-truz. Está alguém
a bater na janela de ninguém.

A mágoa e a doença pairam
no ar, na alma, na emoção de cada um.
É dezembro! E a paixão? Algo
 bom?! Muito pouco ou nenhum.

Com meu vestido molhado
subo eu para o altar.
Oh... Tudo está acabado...
Passarei a vida a chorar!

Truz-truz. Está alguém
a abrir a janela de ninguém.

O matrimónio é para a vida
e esta morte é para mim.
Casei-me com a doença...
Apaixonei-me pelo fim.

Truz-truz. A janela abre!
A fruta podre vai entrar.
Em minha casa começa a nevar
E esperarei que Dezembro acabe
pois o inverno há-de acabar.

Lia.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Naufrágio


E ali o homem naufragou
na gruta profunda de um mar perdido.
Gruta de paz? Mar de calma?
O grande buraco na sua alma
que tal como o mar fora esquecido.

Três dias num pequeno bote ele ficou,
três vezes a mísera vida ele salvou
e, no final do terceiro dia
finalmente terra ele encontrou...
Deus deu-lhe alguma alegria
mas o demónio até a terra lhe tirou.
Haviam árvores de cores celestiais,
fluorescências excêntricas pelo lago de saudade,
fruta que apodreceu pela própria realidade,
e tudo fora um sonho, pois riquezas tais
apenas existem na mente de um pobre com ansiedade.

Rios calcou até cair de dor
provocada pelo seu mais puro amor.
O mar não chorou, nada lhe deu.
Então, o pobre homem olhou para o céu.

"- O que queres mais, Deus sem coração?
Alá, Jesus... és apenas uma ilusão!
Tudo me tiraste, que queres mais de mim?!
Porque não me deixas, porque não me dás um fim?..."
E logo caiu do céu um raio de paixão
mas na fossa mais profunda o homem encalhou,
esquecendo-se do raio e de quem o ajudou.

Lia.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Estrela


Uma nova estrelinha eu encontrei
mas ela não quis saber de mim.

Passado! Mágoa! Que perdido coração...
Não vale relembrar tantos dias de ilusão.
Não vale chorar pelo passado que passou,
não vale viver do amor que folgou!

Oh... E uma a uma as estrelas apanhei,
guardei-as bem guardadas neste coração.
Pensei que seria feliz, que viveria, pensei
ao ter uma estrela que me cantasse uma canção.

Então, uma nova estrelinha no céu eu encontrei
pois a todas as outras eu não dava emoção
mas ela não quis saber de mim
e a morte me deu antes do fim.

Estrela, estrelinha... Para quê o teatral?
Para quê tanta bagunça se és alguém que me faz mal?

Passados meses outra estrela encontrei
mas dela eu não quis saber.
Bem aprendi com a sua irmã
que não vale a pena sofrer.

Lia.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

As asas crescem devagar



Sem nada mais aqui para te dar
fiz-me à estrada para me poder encontrar.
Sem amor, sem culpa, sem sonhos, sem fim,
decidi conhecer a alma que há em mim.

Que surpresa... flores a desabrochar
e vidas tiradas por este bravo mar!
É o mar revolto que existe dentro de mim
num tamanho exílio que ousa não ter fim.

Sou utopia, sou boemia e calma...
Sou a morte que existe na tua alma.
E na estrada eu percebo porque não quero ficar,
porque as asas se limitam a crescer devagar.

É triste, surdo, o barulho deste mar
que nunca fora limpo, este azul do teu olhar.
Que mais posso eu querer? Espero por morrer
para que, um dia, me possas perdoar.

Gosto de desaparecer, de à estrada me fazer
porque a estrada realmente sabe quem sou.
Oh. Diva. Vida? Porque me fizeste sofrer
se a estrada desprezada nunca me julgou?

Lia.

domingo, 11 de agosto de 2013

A rapariga do cabelo azul


Era uma vez uma rapariga que tinha o cabelo azul. Era sedoso, bastante longo, um pouco que celestial, estranho, curiosamente diferente. E, para os outros, uma aberração. Nunca nenhuma rapariga de qualquer reino deste mísero planeta tinha nascido com tal cabelo. O que as pessoas desconheciam era o facto daquela "tamanha horrorosidade" ser a fonte dos poderes da menina. Era com o cabelo que ela coordenava a sua caravela, a sua casa, por onde navegava pelas águas calmas de Atlântida, à procura da sua alma.
Muitos diziam que era pirata, outros que era bruxa. Então, um dia, um pobre e bom aldeão ousou perguntar-lhe o porquê da cor do seu cabelo, que tanto contrastava com a sua face branca e invulgar, sardenta e simples. Amorosa e incompreendida.
- Ao certo, não sei porque nasci assim. A minha mãe tinha o cabelo mais negro que a noite e o meu pai ousou possuir os primeiros raios de sol da madrugada. Porém, de algo estou certa. A minha casa é o mar e o céu. Por isso, o meu cabelo é da cor do horizonte. Tão bravo e tenebroso como o mar, tão simples e tranquilo como o céu. Oh... É tudo. É a escuridão da minha mãe e a luz de meu pai. É o meu lar, a minha vida, o meu encanto. A minha paixão, o espelho do meu olhar. O espelho da minha alma. Contudo, é demasiado confuso para mim. Nem eu sei quem sou. Ainda não fiz a minha escolha. Posso ser céu, posso ser mar.
De seguida, ao ouvir a rapariga, um conde que lá morava perto do cais onde ela tinha pousado, decidiu (para espanto de todos) falar com a menina. Sim, estiveram toda a tarde a conversar sobre arte e filosofia de tal modo que, no primeiro abraço da lua, o jovem, rico e elegante, a convidou para o baile que iria decorrer naquela noite. A menina não hesitou em aceitar o convite, nunca ninguém tinha sido tão gentil para com ela.
E entraram no salão. Tal beleza tinha uma grandiosidade de brandar aos céus. Porém, quando a rapariga entrou em cenário tão rico, todos começaram a cochichar por causa do seu cabelo. Mesmo assim, os dois novos companheiros bailaram ao som de Beethoven. Que noite estrelada que estava! Que sonho, poder estar assim, diante de pessoas normais... Diante de alguém que a aceitava.
Infelizmente, um dos amigos do conde, que outrora lhe tinha chamado de aberração, pegou na sua espada e atravessou-a no corpo da rapariga. Então, ao vê-la caída, os olhos do conde começaram a lacrimejar.
- Não! Não me pode abandonar, minha senhora!
- Não se preocupe, está tudo bem. Já estava na altura de escolher entre o céu e o mar. Agora, finalmente sei quem sou.

Lia.

sábado, 13 de julho de 2013

Weed heart


Cause you’re my poison, this love destroys
And I can’t be you Marilyn Monroe.
For now I sing in an empty night,
The cold is in my heart, I can’t bright...

My lips are frozen cause you’re the king of ice,
I gave myself to you and that’s the price
And now I’m raving, I can see the sun...
That’s in my mind, the dreams when I was young!

When I was young I didn’t know your power.
You gave me nothing, neither a flower.
I’m lost in New York streets, they’re big, was a foolish
Come here and get lost, but bigger is your selfish!

I see your naked eyes, your weed heart,
I see your tameless lips and I start
To cry, it starts to rain...
It’s all a lie, I feel the pain inside.

And in the time of the roses I was your mermaid,
In the time of the sun I was not afraid.
I went to the moon to let you the planet
But in the end of the day I was always your sunset.

Do you just eat the girls or do you have a soul?
And now my eyes are dying, the life you stole
But you’re the monster I love, a beautiful one...
For me you are just perfect but I am still alone.

Lia.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O último dia


Por mais beijos salgados que lhe tenha dado, ainda penso que não me despedi dele.
Chegou o último dia. O dia da despedida, do adeus. O dia dos beijos intermináveis, das angústias antecipadas, da grande devastação e morte a entranharem-se por tudo o que são corações vivos e imundos de paixões inesquecíveis.
Tudo começou por um abraço. Um vasto e caloroso abraço, parecido à tranquilidade do oceano e ao brotar das flores na primavera. Foi um abraço tão indecifrável, tão interminável quanto o amor que sentimos um pelo outro. O meu coração batia por esperança, por uma paixão de perigo e de aventura que poderia alguma vez decifrar todos os porquês destes meus sonhos impossíveis.
E foi aquele abraço que me permitiu voltar a ver o passado, o presente e o futuro. Tudo o que ele sentiu, sente ou há de sentir. Vi a mágoa que lhe causei, as lágrimas que derramei. Vi os limites, uma vida desperdiçada por um desejo insaciável e indescritível de paixão e de novas emoções.
Oh... Sim. Aquele abraço permitiu-me decifrar os olhos cor de mar - de esperança e de saudade. Aqueles lábios que cheiravam a insanidade plena. Aquele desejo de mil e um céus de beijos constantes, de carinhos que ficam, de olhares entrelaçados pela vida que poderíamos ter tido.
Assim, depois da despedida, veio o adeus. Com um medo de tal modo fugaz, que se começaram a misturar as seivas e as paixões e os corações. Vivas e mortas, com medo e com audácia.
Aquele beijo que veio para ficar.
E assim se começaram a conjugar as mãos e os lábios e o sabor de uma falsa felicidade há tanto tempo pedida! Com esse veneno que mata, essa luz que transforma... E, sem sequer nos apercebermos, já os corpos furiosos de um destino frio e mesquinho se misturavam, lentamente, como se fosse a última vez que o pudessem fazer.
Acabara o tempo. Nesse mesmo dia, ele ia viajar para nunca mais voltar. Ia procurar um bom médico para mim.
Então, chegou a hora do "até amanhã". Beijámo-nos pela última vez à porta do elevador.
Foi um beijo tão longo e tão salgado. Encostei os meus lábios contra os dele, pressionei-os com tanta força que quase íamos caindo.
Enfim... já passaram vinte e quatro horas, quase um ano, mas continuo com a mesma saudade, todos os dias a escorrer pela cara que o cancro deformou. Agora, com poucos dias de tormento. Até chegar à paz, ao céu do seu olhar.

Dedicado ao Yegor.

Lia.

domingo, 16 de junho de 2013

O meu mundo


O mundo deles é horrível, imundo, incompleto, falso, mesquinho! Ora, o meu é muito melhor. Ao menos, no meu existem sempre finais felizes, pessoas em quem posso confiar… Lá, chorariam por mim se eu morresse, sentiriam a minha falta! E, para além do mais, o meu reino é o mais bonito de todos… As bagas de framboesa inundam o jardim do meu castelo, e as planícies verdejantes libertam o odor a orvalho, a verdadeira fragrância da vida. É um mundo de inspiração. Um mundo onde posso voar.
Por vezes, penso em ir-me embora. Simplesmente, sair pela porta e nunca mais voltar.
Hoje, depois da escola, poderia ter ido a tantos lugares diferentes... Poderia ter feito tantas coisas diferentes… Poderia ter apanhado o avião para França e lá escrever um qualquer romance fatela. Poderia ter apanhado um qualquer cruzeiro para Nova Iorque, poderia ter aproveitado lá as grandes noitadas na cidade que nunca dorme, as esperanças nunca perdidas e as grandes luzes de vida e de paixão. Poderia ter apanhado meramente um táxi para o Algarve e ter dormido por lá. Poderia ter-me atirado de uma pequenina ponte e ter experimentado a sensação de poder voar.
Hoje, poderia ter ido para o meu mundo. Poderia lá ter sonhado, ou apenas ter deixado uma esperança, um sussurro. Uma paixão.
Hoje, poderia ter subestimado os teus lábios de cor de insanidade.
Oh… poderia ter feito tanto. Porém, acabo sempre por ir para casa. Para o lar. 
Para a mórbida segurança.

Lia.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Apaixona-te



O primeiro grande passo inicial é apaixonares te por ti, pelas tuas acções. Consome-te a ti mesmo, brilha no escuro. Sê especial. Sê louco, sê forte, sê sensível. 
Sê tu próprio.
Sê humano.
Depois, apaixona-te pela essência do ser humano. Um ser de paixão, um alguém de incompatibilidades. Apaixona-te pela arte, pela natureza. Apaixona-te apenas por algo que te faça feliz. 
Apaixona-te pelas tatuagens, pelas noitadas, pelas horas sem dormir ...porque sim. Apaixona-te pelo ardor, pela coragem, pela insanidade.
Apaixona-te pela história. Apaixona-te pela nossa história.
Apaixona-te pela conquista da lua, pela espera pela vida eterna, pela lenda. Assim, garanto-te que serás uma.
Apaixona-se também pela dor, e assim te apaixonas pelo ser humano. Um ser inconstante, imprevisivelmente nato para procurar problemas. Um mar de incertezas.
Apaixona-te pelo desejo. Por alguém te ame, que venere o teu sorriso. Por alguém que te espere, que compreenda os teus sonhos, que te ajude, que te guie, que seja o teu apoio, a tua esperança, a tua própria loucura.
Apaixona-te por alguém que sinta a tua falta e que queira estar contigo. E, por fim, não te apaixones apenas por um corpo, por um rosto, ou pela ideia de estares apaixonado.

Lia.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Um nada que tudo tem


És chama, fogueira. És quente, amor que arde, raio de sol, insanidade em pessoa, loucura inata.
És curiosidade, vida, paixão. Esses teus olhos, esses teus lábios sedentos de amor consomem esta minha vingança. Este meu outro eu selvagem, desbravando loucura, com a mesma insanidade que encontro quando me olhas. Talvez seja essa a fundamentação do amor, completar-me com o que me falta... Com essa tua boemia, com esse teu cheiro que abafa todas as minhas lágrimas desta nossa salgada realidade. Com esse teu toque de suavidade, de sensibilidade, essas tuas rosas e covinhas que me permitem voltar a sonhar.
És veneno. És morte. Ou vida. Ou a minha perdição. És aquele amor perigoso, de insensata loucura. És a vida que sempre quis ter. A necessidade minha de amar, de viver, de respirar.
És as noites sem dormir. A passear junto ao mar tão louco como tu. Como nós. E, sem rumo e sem destino, apenas passeamos porque sim.
Tens asas, e eu perdi as minhas há muito. Já nem me recordo daqueles séculos onde a doença não se propagava. Era tudo tão belo nessa altura.
És vicio. Um vicio que nem tu alimentas. Mas eu gosto de ficar viciada, mesmo que seja em algo que não posso ter, pois não é possível ter o universo. Ou será que ele já nasce nosso?... Também não posso contar as estrelas, não posso tocar no céu, não posso beijar o sol sem me queimar.
És este desejo que me permite amar, sonhar e ficar. És os beijos amargos de um futuro incerto e inconstante deste perigo que é o amor. És sorriso que corrói, ardor que me consome. Céu de  desejo inconstante, olhos de sangue e de paixão. És apenas um eterno sonhador que assim encontrou a minha solidão.
És sim. És tudo e eu sou nada. Um nada que tudo tem. És sol e eu sou lua, és quente e eu sou fria. Porém... Não será mesmo esta nossa incoerência que nos torna algo mais?

Lia.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Sede de amor



Sede de sangue e de vingança
eu tomo por quem me tem.
Ardor de pasmo e de esperança
entrou em mim e em ti também.

Teus lábios são rosas esparzidas
de espinhos crivosos sedentos de amor.
De ti quero ficar sempre cativa,
de quem me vai sufocando neste ardor.

Quero ser tanta loucura contigo...
Insanidade neste desejo por paixão.
Quero ser erros e má fortuna
mas perfeita nesse boémio coração.

Quero sim. Quero... mas não posso,
pois o vento levou minha bravura.
Porém, apesar do céu não te adornar,
teus olhos sempre irradiarão aquela latina formosura.
Aquela de que gosto tanto, a que me deixa sonhar.

Lia.

Os vultos que me atormentam



Estes são os vultos que a atormentam.
Brancos de lua, pretos de sol,
do inferno voltam com a desbravura,
rasgando assim a luz do seu farol.

Feitos de aço, mas transparentes,
imortalmente assustadores,
vêm as sombras dementes...
Morrem os pobres pecadores!

Feitos do fogo frio da estrela ardente
e titã e revolta e de Deus pagão,
pairam e atormentam a sua mente,
devoram os muitos erros do coração.

Sufocam no ego, estes demónios
de luz e de espírito e de plena natureza.
O que ela não sabe é que seguem a luz,
que bem conhecem a nossa realeza.
O que ela não sabe é que querem escutar
o devaneio de quem estão a atormentar.

Lia.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O seu reflexo



Cega é a justiça que julga sem saber.
Eternos são os olhos de mel e ouro fundido.
Maldosa é a fénix que nasce sem perecer,
esquecendo mais o que já estava esquecido.

O que é senão mais a fundamentação do amor?
Amor é grito e sangue derramado
pelos que amam e vêm a mais pura dor
de chama que queima, coração derrotado.

Eles pensam que tudo tenho, tudo posso ter,
mas continuo cativa de quem me ressuscitou.
Gritos de alegria? Como pode ser
ele mais bonito do que alguém que me amou?

Castanho viçoso, formosura singular,
um pouco vaidoso mas muito mais para dar.
Loucura inexplicável, curiosa a emoção
quando escreve ou diz o que lhe vai no coração.

Consome-me com a luz, guia com a escuridão:
Com ele perto de mim não consigo ser o que sou.
É voz de filosofia, poeta de paixão,
Sedento de loucura que também em mim entrou.

O amor de arte, desgrenhado e sem perdão, esquecido,
Volta ao pequeno campo, doce de imaginação, calma.
Encontrei na mais sombria estrela um amigo
esquisito, mas que preenche o corpo e a vida e a alma.

Lia.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

A carta que nunca te darei



Lembras-te das histórias maravilhosas que me contavas quando ainda nem sabia o que a doença te pode fazer? Falavas-me daquele mundo mágico que só tu conheces, onde passaste a tua maravilhosa infância inafundável na terra dos teus sonhos, juntamente com as papoilas que esvoaçavam com teus vestidos e tranças ruivas... E tudo era belo, belo como o teu sorriso, calmo como os teus olhos de um azul imperdível. Um mundo mágico onde desenhavas e desenhavas e voltavas a desenhar os jarros de plantas silvestres e os animais amistosos da tua quinta pequenina. Oh... como nunca esqueceste o teu Alentejo, o interior de um sol quente e florido... as asas da tua infância, dos teus sonhos, da tua vida de trabalho e esperança!
És velhinha, pequenina e tens as mãos deformadas. O teu rosto está enrugado e a tua memória já não é o que era... Estás doente e a mãe não para de falar sobre isso, sobre o dia em que te iremos perder para sempre! Sobre o dia em que me deixarás sozinha neste mundo, só por causa da maldita sombra que tens dentro de ti... Diz-me avó, o que é que a sombra tem que eu não tenho para a preferires ao invés de mim? Eu não percebo o porquê de algum dia teres de ir e não me poderes levar! ...
Bem... gostava imenso de te agradecer por tudo avó, és uma grande mulher, parecida com aquela plantinha frágil que encontraste viva, enterrada na neve mortal e intimidadora. Oh! Como a florzinha brilhava naquela imensidão... E era tudo tão belo nessa altura, não concordas avó?
Eu só escrevi para dizer que te amo e que invejo tanto a tua força de viver... depois dos Invernos cruéis que passaste e das canções tristes que escreveste para o mundo. Porém, tudo o que quero como herança é o teu sorriso desajeitado para toda a eternidade. Prometes-me isso avó? ... mesmo que seja num mundo teu onde os teus olhos preenchem o mar, e onde o céu dos teus cabelos arruivados esvoace ao vento como o sorriso que conquista todas as suas nuvens?

Lia.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Ilusão


 O planeta onde habito é bastante bonito... principalmente na época de framboesas em abundância que inundam a floresta com o seu cheiro doce e tranquilo, confundindo assim a claridade imunda de lua cheia com um toque avermelhado. Aqui, tudo funciona de uma forma diferente... Quanto mais novo és, mais anos carregas sobre ti. Os Verões são gélidos e chuvosos, as Primaveras cheiram a morte sob os campos silvestres, e no Inverno o nosso sol queima todo o hemisfério sul - as terras áridas e inabitáveis de cá.
Eu, porém, vivo numa ilha rodeada pelo oceano cinzentos e por correntes perigosas (Mares revoltos que já várias vezes engoliram os barcos carteiros que por cá costumam passar)... A minha ilha não tem cheiro a framboesa, mas sim o cheiro temível da Primavera. A minha ilha é a mais perigosa, e a mais horrenda de todas as outras, pois é a que está mais perto do sul.
Sinto-me mal aqui. Quero conhecer o mundo, as maravilhas de que tanto falam as tripulações. Estou cansada da mesma rotina, dos ensaios filosóficos sobre a minha existência, da minha alma que nunca pude conhecer verdadeiramente, do tédio ensolarado ao beber o chá da minha consciência. Imagino.me como a lua. Ela é a fonte do planeta, porém, tem de morrer todas as noites para o sol poder ressuscitar e matar tudo o que estiver ao seu alcance. Porque tenho eu que morar aqui, nesta ilha de lástima, miséria e tristeza se posso ir para o verdadeiro planeta das maravilhas, com todas as framboesas, geadas gloriosas e pessoas com coração? Eu não tenho coração, foi-me arrancado pelo sol! Queimado vivo, como se fosse algo mau e mesquinho! Eu não compreendo esta ilha... Eu não me compreendo a mim. Sou apenas um pouco de lua exilada, que não murmura pelo crepúsculo, pois perdeu toda a esperança de algum dia ser mais que isso. Por isso, gostaria de endoidecer... assim talvez o meu mundo fosse modelado de verdades feitas pela maior magia de todas - o sonho.
Há cá dentro um sonho que quer falar e não pode, preso e mudo pelo poder do pesadelo - grandes cavalos pretos, robustos mas moribundos, que nos conduzem para a morte.

Ouço um ruído estranho no armário, aberto pelo desejo insaciável do pequeno almoço... 
Espera! 
A chávena, ela move-se! 
Oh... Isto vai de mal a pior, acho que enlouqueci mesmo! 
Mas... há algo lá dentro, algo... que brilha bastante? 
Oh sim, o Universo! 
Tenho o universo dentro da chávena? 
Ok, definitivamente ando a sonhar demais. 
Mas parece tão real!
Toquei, senti... O sonho, tornou-se realidade... O sonho! 
Será um portal? E eu que pensava que o único Deus seria o sol infernal e miserável!
Toquei outra vez... e caí.

Onde estou? Que cheiro a framboesa é este? E este mar! Este mar é azul, o mar dos teus olhos. Já encontrei a minha alma...  estava no país do teu amor - E assim me desprendi das correntes perigosas, simplesmente porque um dia, curiosamente encontraste os restos do meu coração.

Lia.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Mundão


Quero, mas sei que não devo,
preciso mas não o posso fazer.
Porque dou eu tanto relevo
a algo que não irá acontecer?

E numa fazenda aprendi história.
Uma fazenda pura de coração
de grandes cristais castanhos
que olham em torno da emoção. 

Uma fazenda de céu e paraíso
onde tudo se faz por uma razão:
Paredes construídas de madeira com lema
de ajudar os outros, apenas por paixão.

E porquê tanta tristeza, tanta angústia de a perder?
Porque os lenhadores a destroem, sem qualquer razão.
E porquê o grito se é linda no interior?
Porque o povo cruel não permite tal sedução.
E porque te importas? Ardam todos no inferno!
Porque antes de lá chegarem ainda estou neste mundão.

Lia.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Quando foi isso?



Quando foi isso? Eu própria já não sei dizer...
Quando me amou ele, assim, perdidamente,
com a loucura de criança que sonha e é carente
como dois fogos sedentos de prazer?

Foi no tempo da amargura e dos sonhos irreais,
de tristezas desgrenhadas, tapadas com véu
de um amor pequenino, infinito como o céu.

Foi no tempo da dança, sem da música precisar,
no tempo do amor sem a igualdade procurar.
No tempo dos sonhos, quando dei o meu coração
a quem não mereceu... Quem devorou a emoção,
e, sem dor, deitando tudo fora,
sem compromisso, apenas se foi embora! ...

Porém... Quem é ele? Este demónio que me afoga
de saudade remota, de paixão que me consome?
Bem... Eu sou a sua princesa do "Era uma vez..."
e ele o pobre astuto que morre à fome.

Lia.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Demónio



Esses olhos deixam-me inerte num vasto céu
azul, infinitamente perigoso - o que senti...
Esses lábios, rosas desgrenhadas com véu
de espinhos sangrentos que nunca temi
São tudo o que desejo como troféu
de dois anos a viver, a morrer por ti.
Demónio, porque não sobes para dançar...
para contigo a minha alma partilhar?

E, como uma criança, o teu coração
bate por magia e por loucura inexplicável
que sempre decifra o "era uma vez uma paixão
impossível, com uma maldade incontrolável".
Basta! Chega de razão... quero emoção,
perigo, aventura e uma alma indomável
que me consuma com esta esperança insensata,
olhar fumegante, sabor a droga e maluquice inata...

A alma de poeta de extraordinária imaginação
finalmente voltou a escrever graças a esta ilusão.


Lia.