sábado, 22 de dezembro de 2012

Mágoa


O amor foi um caminho que procurei,
crente de que o haveria de encontrar.
Porém, quando, cansada, o encontrei
depressa ele me voltou a magoar.

Cessem das paixões que não podem voltar!

O amor perfura agora o meu coração
e é uma dor difícil de aguentar...
Como uma rosa, sedente de emoção
e com espinhos que cravam e voltam a cravar.

Cessem das emoções que acabam por magoar!

O amor são as lágrimas de dele precisar,
são ciúmes que voltam como o vento.
São as pétalas que acabam por murchar,
é ter de viver assim, num tormento...

Cessem dos falsos carinhos de alento!

Eu quero esquecer e voltar a esquecer
esta alma impura que é o amor.
Contudo, só mesmo se morrer
é que esqueço toda esta grande dor.

Cessa de uma vez por todas
desses lábios sem mais cor!!

Lia.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Auto retrato



No reflexo de água pura paro para observar
a alma inocente que nele habita...
Uma doce alma sempre pronta a ajudar
apenas os mais fracos, quem mais necessita.

Vislumbro o olhar altivo e carente
de vivos e grandes botões de açúcar torrado.
Um olhar de felicidade, doce e ardente
como o coração ao qual está destinado.

Revejo as pétalas suaves e clandestinas,
pétalas vermelhas, sangrentas de paixão.
Revejo a história destas minhas meninas,
lábios que sempre desejaram o irmão.

E o cabelo que é nada
e que, afinal, tudo acaba por ser?
E o perfume a rebuçado da Prada,
a grande dádiva de poder escrever?

E as assas triunfantes e ilegais
que comandam todas as minhas acções?
Quais os maiores sonhos? Quais...
E as vidas nos meus dois corações?

Enquanto reflicto, observo esta água pura
a encharcar-me de esperanças e contos de fadas,
da vida para além da morte, de muita loucura
e de sonhos, paixões, personagens aladas...

Lia.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Primavera


Já nem me lembro do inverno que passara...
não mais quero recordar os extremos actos de dor,
não mais quero saber da vida que murchara
nem dos sussurros, para mim ruidosos, que ouvi sem amor.

Agora? Agora finalmente a primavera começou
trazendo com ela toda a minha alegria.
Agora tenho vida e um amor que em mim brotou,
e as lágrimas de sofrimento já não pingam em demasia.

Agora, uma nova e recente subtileza eu descobri.
Quando ele me beija, sinto formigas no meu coração!
Mas que estranho sentimento que hoje senti...
deverá ser pela primeira vez a verdadeira paixão.

Fico nervosa quando me toca e me acaricia
e quero tanto, mas tanto perto dele estar!
E quando chego a casa penso no que seria
se perto dele estivesse, e se o pudesse desejar...

E nos meus sonhos lá está, com aquele seu sorrir
que me põe a alma encantada e ofegante.
Gosta de aparecer na virgem sombra do partir
mas sabe que não resiste ao meu beijo constante.

Ele sabe que não resiste ao meu coração apaixonado
depois de longos anos de um coração inabitado.

Lia (:

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Um abraço


O frio instalou-se na tua doce voz
e nada mais poderás dizer para me animar.
Lembro-me de ti, de mim, de nós,
mas isso não muda nada, para feliz ficar...

Agora, tenho amigos, todos gostam de mim
e num conto vivo com o meu príncipe encantado!
Agora, devia de estar alegre... Porém, mesmo assim,
continuo a sentir um vazio, há já muito semeado.

Sinto um vazio doentio e instantâneo
que ontem e hoje não me deixou sorrir.
Terá origem nos vários acontecimentos em simultâneo
ou na angústia de um passado que jamais irá partir?

Choro, sem causa, sem rumo, mas com amor...
Com sorrisos, carícias e com aquele olhar.
Mesmo tudo tendo, continuo a sentir a dor
e o sonho de não mais para o real voltar.

Que desejos infernais que não me deixam viver,
que não me deixam esta felicidade saborear...
Basta, eu quero finalmente parar de sofrer
e a quem merece, a devida relevância dar!

Quero beijinhos e fofuras a toda a hora
mas sei que nada disso me irá fazer esquecer.
Porém, só um abracinho... sem mais demora,
e saberei assim que amanhã será um novo amanhecer!

Lia.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O amor é...

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O amor é uma arte e muitos não o sabem desenhar.
O amor é a música que muitos não conseguem cantar.
O amor é a vida que todos querem viver
e o desejo, o sofrimento, a dor de querer morrer.

O amor é liberdade, é ganhar asas e voar.
O amor é o que sustenta este mundo a cair.
O amor é a luz, a galáxia do brilho no meu olhar
ou a saudade impassível quando ele tem que partir.

O amor é o coração que às vezes queremos escrever
ou a triste paixão que não conseguimos agarrar.
O amor é alguém que não consigo esquecer
porque, para onde vá, com ele começo a sonhar.

O amor é tristeza, pureza, franqueza,
intimidade, maturidade e felicidade.

O amor é tudo o que vive, respira e sente...
O amor é  sofrer e seguir em frente.

Lia (:

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Soneto - Agora está



Onde estava o amor, habita agora um vazio.
Onde estava a felicidade, está agora a solidão.
Onde estava o calor, agora sinto um calafrio
que me preenche de todo, já sem coração.

Onde estava o desejo, está agora um aperto
pela pessoa que mais me ama ter que desapontar...
Agora está a fúria de um impossível conserto
de algo que nunca quis deixar de criar.

Onde havia música, agora há um colapso, um silêncio
porque a minha voz já cansada está de cantar.
Quererei eu assumir a responsabilidade de alguém amar?

Onde ecoava a escolha, agora perdura o destino
porque não mais sobre isso eu quero pensar...
Sobre o amor de um tão bonito menino!

Lia.

Soneto - Já é demais tanta alegria!


Por vezes, tão grande é a minha alegria
que penso imediatamente na triste fantasia.
O meu sorriso expande-se demais e demais
e transformo a verdade em momentos irreais...

Tenho sempre, mas sempre, que tudo estragar
e as pessoas que de mim gostam, desapontar.
A inocência ainda cá está por algo que parece paixão
ou apenas outra façanha do meu pobre coração.

Todos ficam a saber o que não é preciso
graças e apenas ao meu puro sorriso...
É algo que eu odeio e quero muito superar!

Porém, agora só peço para ele me perceber
e, conhecendo-me bem, para continuar a desejar
o brilho dos meus olhos, que já começa a desfalecer...

Lia.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Saudade



Sempre algo vejo que se entristece ao se aproximar,
algo que faz o meu mundo se desmoronar,
algo que nunca senti na minha querida infância:
um sentimento horrível chamado distância.

Observo-a entranhar-se cada fez mais no coração
depois de um dia de trabalho e de muita paixão...
O que por ele eu sinto? Será mais que amizade?
Só sei que nada sei, apenas me dói tanta saudade.

Chego a casa desolada, por não mais com ele estar,
por ter de aguardar mais uma eternidade, apesar
de serem só mais 12 horas, 12 horas de ganância...
É simplesmente o que me faz esta maldita distância!

Mesmo assim, sei que de mim se lembrará,
e, apesar do dia infelizmente ter chegado ao fim
perdurará sempre na minha mente a grande necessidade
do seu sorriso compor e avivar... a pura saudade.

E agora? Se nem com ele falo muito que hei-de fazer?
Só sei que nem nos sonhos o consigo esquecer
porque a sua voz me acompanha em qualquer circunstância,
perfurando, amolgando esta doentia distância...

Oh! Maldita sejas infernal ansiedade!
Adorava saber o porquê de tanta saudade!

Lia.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Eu sou como uma rosa


Eu sou como uma rosa, uma rosa que murchou.
Os meus olhos são o centro, onde tudo começou.
Os meus lábios são as pétalas que deixaste secar
porque todos os dias te esqueceste de me regar.

A raiz não se alimenta, porque asas já não tenho.
A chuva já não cai, porque os sonhos não são reais,
mas o vento continua, e não parará até que tu
te lembres de mim, e que me acolhas em teu cais.

O meu coração palpita com este amor ardente
como a rosa que floresce quando nasce o seu sol.
Tal como o sol é a vida e a morte da bela flor,
tu serás eternamente a sombra do meu farol.

Agora, nada tenho, ao contrário da rosa vermelha,
a viçosa e airosa, aquela de quem tu gostas mais.

Terá sido a sina - o destino que me levou até aqui,
ou o facto de uma flor precisar sempre de um clarão?
Só sei que o murchar foi apenas do que eu vi,
vendo essa vermelhinha aproveitar-se da tua paixão.

Lia.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O espelho do céu


Espelho meu, espelho meu,
quem poderei realmente ser eu?

Já fui aquela do "era uma vez",
a pequena que de ti se enamorou,
a poesia que sempre me escreveste
e a princesa que contigo cavalgou.

Já fui vida que florescia no teu olhar
quando o piano eu começava a tocar.
Porém, agora e eternamente, espelho meu,
quem poderei realmente ser eu?

Agora, nada sou - o eterno vazio e a dor
de alguém a quem uma vez chamaste de flor.
Fui uma boémia sonhadora que voltará a sonhar
quando o destino, traiçoeiro, para ti me levar.

Contudo, no passado continuo a viver...
Já fui a guerreira que lutou, assim,
entre a espada e a parede para não te ver morrer.
Agora, o inevitável é caminhar para o fim.

Assim, hás-de ficar sempre ao pé de mim.

Lia.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Soneto - Quem queres que seja?

"Tens o universo na palma das minhas mãos, agora só precisas de escolher o planeta certo para habitares"

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Para ti, quem realmente poderei ser eu?
Serei eu aquela desejada do "era uma vez",
aquela que te poderá dar um novo céu
ou aquela pequena menina de eterna timidez?

Para ti, que relação poderemos ter?
Serás o amigo que sempre quis encontrar
ou a eterna paixão que não conseguirei esquecer?
Diz-me! Para ti, quem poderei eu ser?

Serei eu a coragem que te ajuda a continuar
ou a pessoa que não quererás encontrar?
Farei eu parte do teu triste pôr-do-sol?

Serei eu alguma vez o teu farol?
Serei eu o teu angustiante odor a maresia
ou o teu penetrante perfume de doçaria?

Lia.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Soneto - Amanhã

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Na imensidão do mundo em si
nunca no seu ego consigo entrar.
O que há de errado em mim
que a atenção dele não consigo chamar?

Ele é tão querido e tão bonito
e comigo já uma vez ele falou.
Contudo, os nervos mais alto sussurraram
e de mim rapidamente ele se afastou.

Mesmo assim, amanhã será um novo dia.
Hoje, o dia inacreditavelmente se colapsou
mas amanhã haverá um novo amanhecer.

Amanhã o seu sorriso voltarei a ver
e sem medo com ele voltarei a falar
para cúmplices e amigos podermos ficar.

Lia.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Soneto - O piano e tu



Tudo com um pequeno sonho nasceu.
Uma esperança de expectativas adornada,
embora falsas, e de um amor que floresceu
numa vida com uma história complicada.

Tudo o que eu quero? A certeza não posso ter.
Apenas sei que te tens vindo a tornar
na poesia que não consigo esquecer
quando o piano começa a ecoar.

Agora, já não mais consigo viver
sem constantemente contigo sonhar.
Contudo, sinto que não mais te devo idolatrar.

Mesmo assim, és o piano que toca a poesia
mais bonita que alguma vez tive de tocar.
Oh, se eu pudesse... Sabes o que faria? ...

Lia.

domingo, 2 de setembro de 2012

Um mau texto



Quem sou eu? 
Qual é o meu propósito aqui no planeta, neste preciso país pequenino e a afundar-se cada vez mais na crise? Porque não nasci na Inglaterra ou na Itália? Seria fantástico se soubesse falar italiano como eles.

Perguntas difíceis.
Sinceramente, ás vezes quando estou deitada começo a pensar nisso, sem nenhuma resposta palpável. É deveras frustrante não o saber. Por isso, começo a inventar, na esperança de encontrar a resposta certa de qualquer forma. Talvez seja uma eterna e boémia sonhadora que persiste em viver num conto de fadas. Não sei... gosto de me imaginar com aqueles vestidos compridos e maravilhosos, gosto de criar uma paisagem linda para o mar, já menos revolto do que era, vista da pequenina janela do meu quarto, na torre mais alta. Gosto de viver na ilusão de um dia voltar encontrar um príncipe que me libertaria, que me levaria para o castelo. Que casaria comigo. Gosto de pensar que o "felizes para sempre" existe mesmo... Porém, como já disse, é tudo uma ilusão. Por isso, escrevo. Escrevo e escrevo para a ilusão se tornar cada vez mais real no meu coração.
Por outro lado, talvez seja uma rapariga igual às outras, com o sonho impossível de vingar no mundo da música. Não me julguem, apenas gosto de sonhar. Talvez mesmo mais do que cantar ou tocar piano. Ou talvez não. Ás vezes pego no meu cavaquinho, finjo que é uma guitarra eléctrica e dou um show de rock and roll no meu quarto. É divertido. A minha esquizofrenia está cada vez mais grave.
Pensando melhor, talvez não seja humana. Sou demasiado estranha para o ser... Talvez venha a ganhar asas um dia. Talvez não. Já passei muito na vida mesmo com esta tenra idade. Contudo, conheço pessoas que sabem o que é perder um pai ou uma mãe, ou mesmo até o verdadeiro amor. Comparando-me com essas pessoas, nem sofri assim tanto.

Mesmo assim, depois de tanto pensar, duvido que alguma destas teorias estejam totalmente certas. 
Afinal... Quem sou eu mesmo?
Eu sou a Lia, uma rapariga portuguesa que já presenciou milagres, que esteve um ano inteiro no abismo como o patinho feio e que depois voltou para a terra como um cisne. Uma rapariga que agora está muito melhor em todos os aspectos, e que luta a cada dia por um mundo melhor e mais justo, para todos.

Lia.

Sociedade pagã


Ontem descobri algo muito importante. Descobri que o príncipe encantado não tem de ser um rapaz perfeito, nunca teve. Não tem de ser muito bonito, muito inteligente, muito culto, com os mesmos gostos que eu. Não tem de ser aquele anjo que todas as raparigas anseiam por ter, nem  alguém muito popular só por ter nascido com as feições e os tamanhos exactamente perfeitos e com uma riqueza incalculável. Porque é que o príncipe não pode antes ser um plebeu pobre, feio e sujo? Os príncipes tornam-se tão monótonos... Depois de uns tempos deixamos de gostar deles, o amor desaparece, ou o namoro acaba por causa da inveja e do ciúme. Porém, o amor entre uma princesa e um plebeu é bem diferente... É um amor que engloba aventura, paixão, e até um pouco de perigo. Como não podem estar todos os dias juntos, a paixão entre eles torna-se cada vez mais forte até ao ponto de quererem dar a vida um pelo outro. Se um morre, o outro suicida-se. Contudo, tem de ser principalmente um namoro ás escondidas, porque a sociedade pagã não tolera duas pessoas que se amem por causa do interior de cada um. 

Lia.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O meu melhor amigo

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Já tinha saudades dele, do seu desleixado e constante sorriso que nunca falhou, que sempre a esperança irradiou com uma inocência maravilhosa, juntamente com o seu olhar de um louco sonhador que nunca chegou a alcançar algo mais que isso. Já tinha saudades das suas piadinhas sem graça nenhuma sobre mim e sobre como falo. Um gozo jovial que também me faz rir imenso. Uma voz incrivelmente doce, diferente de qualquer outro rapaz que conheço. É um perfeito conhecedor de si mesmo, e mesmo até do mais profundo átomo do meu ser. Por isso, descobre sempre quando algo não está devidamente encaixado na minha vida. E, quando um grande temporal encobre o meu coração, ele consegue sempre dissipá-lo e assim transformar-se no meu herói. Afugenta-o apenas com palavras diferentes e cheias de vida, de brilho, de amor, que logo rejuvenescem a minha alma, reacendendo devidamente a pequenina chama esquecida no abismo da abstracção. 
A sua altura incomoda-me imenso, devido ao facto de ter de olhar para cima sempre que quero falar com ele, mas penso que até lhe fica muito bem, não o imaginava mais perfeito de outra forma. Oh! Quanto tempo passou! Já está um homenzinho, já tem barba, já gosta de fazer tudo aquilo que os outros rapazolas fazem, mesmo sem nada ter a ver com eles.
E, mesmo assim, o mais curioso sobre ele é o facto de estar sempre a sorrir. Não sei porquê, mas a felicidade não o deixa nem por um segundo, como se fosse uma sombra, com uma missão de resgate ás almas perdidas e esquecidas pelos outros... antes de tudo, pensei que ele fosse um anjo enviado por Deus, devido a alguma das minhas preces de socorro, de piedade e de um dos meus doze desejos da passagem de ano, ou até mesmo um extra-terrestre do planeta maravilha. Há alguns meses atrás, descobri finalmente a palavra certa para o caracterizar, um pouco mais real. Ele é simplesmente... uma espécie de ser humano raríssima, em vias de extinção e muito difícil de encontrar nos dias de hoje - o meu melhor amigo.

Dedicado ao Miguel Costa.

Lia.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Soneto - Rapunzel



Cá estou eu, a olhar novamente para o céu,
para as estrelas que iluminam a minha esperança.
Espero um nada que nunca, jamais há de vir
mas continuo a sonhar como uma simples criança.

A Rapunzel apenas sou, na prisão do meu passado,
dos medos e das angústias que comigo tenho arrastado.
Canto para o vazio, para o meu príncipe encontrar,
um príncipe com coragem suficiente para me levar.

Porém, é inútil. Ninguém me vem buscar.
No meio da escuridão continuo a viver,
a amar um príncipe que nunca cheguei a conhecer.

Assim não consigo daqui sair sozinha
porque nem o meu cabelo me consegue salvar
dos inúmeros minutos que tento esquecer.

Lia.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Cenários impossíveis




Eu sei. Sempre soube que os versos não eram para mim, apesar os de ler com aquela vida, aquele brilho no olhar, aquela esperança de algum dia poder encarnar o papel da Rose, ou até da pequena Julieta. De os viver com tanta inocência e tanta coerência. Porém, eu sou assim. Apenas uma boémia sonhadora que gosta de imaginar - cenários impossíveis -, que gosta de fazer da vida um filme que nunca irá para a bilheteira. É como uma droga que me consome, que queima lentamente toda a minha sensibilidade. Sinto-me tão bem quando o faço, sinto que todas as noites alguém adormece a pensar em mim, a pensar em nós. Fecho os olhos por momentos. Os momentos mais felizes do dia, - cenários impossíveis. Imagino o seu sorriso, o olhar inquietante, os lábios a viverem e o coração a palpitar, como se pudesse ganhar asas e voar para dentro do seu coração - cenários impossíveis. De seguida, acordo. Olho ao meu redor e vejo que nada é verdadeiro. Um balde de água fria. Fico triste, só, sem ninguém, novamente.
E depois começo a sonhar mais uma vez, só para sentir um pouco de felicidade. Apenas - cenários impossíveis. Só para sentir que esta vida não foi dada em vão. Eu sei que nascemos para sermos felizes e para dar aos outros esse tão desejado dom. Eu sei que vivemos para sermos amados e não só para amarmos. Eu quero voltar a amar outra pessoa, mas os seus versos são a minha corrente. Perdi tudo – as asas, o coração – apenas para ouvir um pouco da sua voz interior. E, apesar de saber que, se continuar a viver assim não terei hipóteses de sobreviver, prefiro viver o pouco tempo que tenho a imaginar - cenários impossíveis...

Lia 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Forget



Esqueço o momento, esqueço tudo, as saudades que tenho da tua voz.
Esqueço o alento, esqueço o mundo imaginário que criei de nós sós.

Esqueço a esperança, esqueço a vida que criaste no meu olhar.
Esqueço a pobre criança esquecida que em mim ajudaste a encontrar.

Esqueço as irrepressíveis horas perdidas para uma frase te dizer.
Esqueço as inesquecíveis palavras sentidas que me deste a conhecer.

Esqueço as viagens por toda a Europa que sempre me prometeste.
Esqueço as imagens do sonho onde o casamento me propuseste.

Esqueço a boémia poesia que, com amor, escrevias para mim.
Esqueço a triste agonia quando ambos descobrimos o fim.

Apago todas as tuas memórias para finalmente voltar a viver,
para o teu perfume, os teus lábios e tudo em ti poder esquecer.

Lia.

domingo, 12 de agosto de 2012

A outra



A minha esperança está a arder. Consome-se a si própria com cada vez mais velocidade. Tento olhar para outro lado, mas a chama está cada vez mais alta. Procuro-o para o salvar do incêndio, mas ele está ocupado a pensar na segurança da outra. A outra! Aquela que sempre quis o que não devia. Depois, ouço ignorâncias. Espalham-se pelas entranhas do meu corpo e não me deixam mexer para ele saber a verdade acerca de mim. E morro lentamente, vendo-o salvar a outra. Vendo-o com um olhar de amigo preocupado a afastar-se. Apenas um olhar de amigo preocupado. 
E fecho os olhos. Vejo-nos em Viena, a cidade da música, a minha cidade, a nossa. Estamos tão bem juntos, sem a outra. Sempre sem a outra. Até que o sonho se torna num pesadelo. A víbora aparece. Asfixia-me, não consigo respirar. Os meus lábios vermelhos tornam-se cinzentos. O bonito torna-se feio para mim e para ele. Eu confiava nela, e a confiança só se ganha uma vez, mas esse não é o problema. O pior mesmo é o facto de ter tido esperança, e agora é ela que me consome. A esperança é igual à outra - "o que é demais enjoa"...
Porque estará ele cego? Terá ela um poder sobrenatural para o fazer? Talvez esse seja o problema. Eu sou normal, a outra não! 
E depois de tudo isto, ainda me humilham diabolicamente! Anteriormente, tinha o prazer da escrita boémia como consolação. Agora, nada tenho nem nada consigo ter, pois ele roubou toda a minha vivacidade e principalmente o que sobrou do meu coração para dar à outra como presente de casamento...

Lia.

Soneto - Voar

Se eu pudesse voar, voava.
Asas ganhava e deslizava como um falcão.
Voava para longe, para sozinha ficar
porque as asas são o espectro da solidão.

Voava para não fundir com o calor
desta velha, eterna e mísera paixão.
Voava alto, para ninguém me proibir de sonhar,
pois as asas são o espectro da ambição.

Voava e não voltava para ninguém incomodar.
E, para o carinho (ao menos) de uma estrela ganhar
voava em direcção ao grande clarão.

Conseguia ser feliz se voasse,
feliz sou sozinha e sem coração,
somente com asas, e a sombra da ilusão.

Lia.

Imortalidade


A sua face conjugava lendas de
virgens céus e silêncios arrepiantes,
a claridade de uma triste infância,
sombras de ouro e tentação,
cintilações de horas milagrosas
e o egoísmo da eterna paixão.

Escapou à morte no vale de
luz filosófica e vertiginosa.
As asas são a sua corrente,
pois todo o espírito ofereceu
em troca de um lugar no céu.

Uma mulher profana e escravizada
tornou-se na grande ponte de sonhos
de cristal curvilínea, afundada
na veemência da noite e do prazer.
Tomou nas costas terraços de templo,
histórias e letras mesmo sem saber.

Oh! Classicismo verdadeiro!

Os lábios e os provérbios populares
faziam dela um rio inundado de prata,
um sol-da-meia-noite de todos os sete mares.

Lia 

terça-feira, 31 de julho de 2012

Naufrágio


Se foi na praia que nos vimos pela primeira vez,
se foi no mar que começou toda a paixão,
então o pôr-do-sol é a minha alma
e o mar todo o meu coração.

As gaivotas sussurravam, implorando
ao vento qualquer compaixão.
As ondas, puras e cristalinas
esbatiam o famoso sol de Verão.
E eu, sentada na areia,
tive uma bizarra visão:

O mar revolto e teatral
mostrou toda a nostalgia profana.
Estava a nadar, e, de repente
o mar quis-me,  devorou-me...
a parte triste de ser humana.

E, quando finalmente desisti
de todos os sonhos concretizar,
Um corajoso rapaz eu senti
levar-me para longe do mar.

O primeiro beijo me deu,
desespero, ao tentar me salvar:
o duro naufrágio aconteceu
mas ele lá estava para me resgatar.

E quando finalmente acordei,
uma estranha língua ele soletrou.
Uma mistura de alemão e inglês...
de certeza que era holandês.
Fiquei encantada com a sua face,
um anjo não português.

Passados minutos a visão acabou,
e tudo novamente recomeçou.

E aí descobri que não são as palavras
que descobrem paixões, mas sim
os momentos de sonho perto do céu.
Um céu que esteve tão perto de mim.

E quando tudo terminou, um vazio
preencheu-me, um olhar
vadio e boémio vinguei
ao cruel, mas doce mar.

E algumas loucuras disse sobre
o holandês que me tem feito sofrer:
"Ele é o homem da minha vida.
Será que o vou voltar a ver?"

Lia.

domingo, 29 de julho de 2012

Snow White and the Huntsman


Esta é uma nova versão da Branca de Neve inventada por mim. Tem o mesmo título do filme da Kristen Stewart porque se adequa muito bem neste caso, mas não têm nada a ver um com o outro :)

Esta é a historia de um princesa
de uma incondicional e extrema beleza.
Os seus lábios, vermelhos como uma rosa,
a sua face tão branca, a fragrância leve
e os cabelos negros como um corvo
faziam dela a Branca de Neve.

Fora ensinada desde cedo para governar
mas desde cedo que o começou a amar.
Era um pobre rapaz do povo,
ela sabia que juntos não podiam ficar.

Apesar das grandes diferenças,
cresceram na humilde esperança
de um dia casarem em paz,
do rapaz ao reino ganhar a confiança.

Até que um dia, os doces lábios da rainha
escureceram para sempre, e o rei
deixou-se encantar por uma víbora
que no reino implantou a sua lei.

A nova líder matou o pobre rei
e aprisionou a sua preciosa.
7 anos Branca de Neve esteve presa,
mas, aos seus encantadores 18 anos
tornou-se perfeitamente bela e formosa.

A madrasta, ao  finalmente constatar
que Branca tinha atingido a maturidade,
ao reflexo perguntou: "Espelho meu,
haverá alguém mais bonita do que eu?"

"Lamento informar-te meu amanhecer...
Infelizmente, meu néctar do doce viver,
aquela com rosas em vez de lábios, branca
pele, cabelos de corvo, a face
da mais bela te arranca..."

Com a triste e cruel resposta,
a víbora tomou uma decisão.
Ao caçador pediu lealdade
e de Branca o seu tenro coração.
Contudo, apesar de todos os avisos,
o pobre homem caiu em tentação.
Em vez de pedir uma exuberante riqueza,
preferiu ficar com a grande e velha paixão.

E assim protegeu a sua princesa.

Passaram dias juntos, os amantes
trágicos do curioso destino,
(apesar de tudo, ele prometeu
amá-la para sempre quando era menino,
quando o primeiro beijo dela colheu)
e encontraram uma pequena casinha.

Bateram à porta, mas ninguém
estava em casa, ninguém compareceu.
Até que, por detrás do casal
um pequeno rapaz apareceu.

Era um anão, e atrás dele
estavam mais seis companheiros.
Ao terem descoberto quem era Branca,
foram simpáticos e muito hospitaleiros.

Ao longo do tempo, os sete anões
foram sentindo uma estranha sensação.
A princesa despertou neles
uma quente e proibida paixão.

Os vermelhos lábios da rapariga
faziam os seus olhos palpitar.
Sempre que podiam, o mundo paravam
para ela ao natural poderem imaginar.

Mas, apesar da feliz vida que viviam,
essa felicidade teve de acabar.
A rainha descobriu que Branca estava viva,
e imediatamente partiu para a matar.

Aprisionou os anões, e com um som vitorioso
disse que não mais os incomodava
se uma maçã a Branca dessem a comer
para ela ao veneno não sobreviver.

As pobres criaturas aceitaram, mas não
com a intuição que ela lhes tinha dado.
Ao maior rival deram a maçã, e o caçador
mergulhou no sonho que não lhe estava destinado.

Branca de Neve ficou a salvo,
mas não com o desejo de viver.
Sentia-se sozinha e desesperada
ao senti-lo lentamente morrer.
E aí, os anões finalmente perceberam
que não deviam de tê-la deixado sofrer.

Enfim... para a alegrarem, descobriram
uma moderna maneira de o salvar:
para eles terem um final feliz,
Branca tinha de o beijar,
porque só com o beijo do verdadeiro
amor, ele conseguia acordar.

E assim foi, ele acordou
para toda a eternidade a amar.
Sem mais demoras, um exército juntaram
e o castelo da víbora tomaram.
Branca recuperou o seu trono
e meses mais tarde se casaram.

Viveram felizes para sempre,
porque juntos a morte superaram.

Lia.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Caveira Esquilar


Todos os domingos lá entro na
a grande aventura, de Lisboa
até Setúbal, para ensaiar
com a minha banda - A caveira esquilar.

Apesar dos 35 anos que carrego,
o meu sonho sempre será cego:
a fama conseguir alcançar.
E até que a voz me doa,
hei sempre de querer cantar.

Ensaiamos num quarto de sonho
para a música bem equipado.
Á direita, uma colecção de guitarras
e uma retrete sem papel do outro lado.

Naquele quarto ninguém é normal.
O baterista está sempre a dizer piadas
secas, e o guitarrista, quando toca,
tem uma estranha expressão facial.

E nem ouso falar do baixista...
usa sapatos góticos de cunha,
é bochechudo, usa correntes,
e uns óculos redondos sem lentes.

A nossa banda é alternativa
e a mascote é um querido esquilo.
Um dia, o animal iremos matar
para a sua caveira emoldurar
e o grande símbolo nos concertos mostrar.

Apesar da banda ainda ser nova
ainda temos muito para dar.
Apesar de, por vezes, o guitarrista
se esquecer por segundos das notas,
ao vivo haveremos de arrasar.

Lia.

 Dedicado à Susana Correia.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Pescador


Que quente praia, onde vivi
a maior alegria que já senti.
Tudo era mágico, encantador,
tal como ele e o que vivemos ali.

Era tarde, escurecia,
mas já não no meu coração.
Ele só com o grande sonho batia
de sair de vez daquela prisão.

Queria ser uma gaivota e poder voar,
sentir a brisa, saber que posso confiar
no vento, mas as asas não cresceram
e o vento não me quis ajudar.

Queria ser um golfinho, conhecer a riqueza
do oceano, bem longe, apenas nadar.
Porém, por muito que tivesse pedido,
debaixo de água não consegui respirar.

Queria ser algo mais, e não apenas
uma rapariga na praia a estudar.
Como era Outono, nada mais podia ser
e apenas continuei a trabalhar.

Até que vi um vulto... Uma mulher?
Não! Um bonito homem a pescar.
Adolescente... Como pode ser?
A pobreza chegou até ao mar.

Ajudei-o a desenlear as redes
e descobri que ele sabia cantar.
Tinha uma voz maravilhosa, inglesa,
e um belo e doce sussurrar.

Três vezes ele sussurrava,
três vezes eu sorria.
E quando chegou o momento
disse-lhe que também o sentia.

Depois disso uma gaivota
ou um golfinho não mais quis ser
porque com ele era livre,
ele permitia-me viver.

O fantasma em mim morreu
e todo o passado com ele ardeu
para uma nova época rejuvenescer.

Lia.

sábado, 30 de junho de 2012

Thinking of you - Katy Perry


A história recorda sempre a vitória de uma grande batalha, mas não o sangue derramado. Não as lágrimas, o sofrimento, a solidão, o vazio. Contudo, eu lembro-me e bem de tudo isso. Eu passei por isso, perdi-te de uma forma tão cruel que é impossível não me recordar do teu sorriso, dos teus lábios, da tua vida como homem, como namorado, como um "tudo para mim".

O único pedido que faço nas minhas orações, apesar de incredulamente impossível, é poder voltar àquele dia, quando me tinhas feito uma surpresa repetitiva que sempre adorei - um piquenique. Era deveras engraçado, mágico. Lembrava-me que a minha vida era um conto de fadas onde o pobre rapaz levava a princesinha a conhecer o seu mundo, a vida para além do castelo encantado, as lindas flores dignas de serem um elemento fundamental na poesia dos melhores poetas já transformados em lendas pelos aldeões e até pela gente mais nobre, como eu. Afinal, a história prefere lendas a homens, sempre preferiu. Adorava poder voltar a esse dia, quando viste colado num pequeno carvalho o cartaz " I want you for the U.S. Army". Adorava dizer-te que nunca quis que fosses, que te tornasses um herói, porque já o eras no meu coração, nunca quis que me abandonasses assim, que me desamparasses. Tu sim, eras e és o meu verdadeiro castelo, não ele. Oh, o Henry... É a pessoa que tem procurado e lutado pelo meu sorriso, desde que te separaste de mim, de nós. Porém, a verdade é que não gosto dele como ele quer, porque simplesmente não consigo gostar. Simplesmente, quando ele beija os meus lábios, eu provo a tua boca, e quando ele me puxa para perto dele, eu apenas sinto nojo de mim mesma. Será isto normal? Sabes porque sim? Porque quando estou com ele, estou sempre a pensar em ti. E isso eu não posso mudar.

Já não aguento mais. Preciso de sentir o teu quente corpo cheio de vida. Preciso de beijar esses virgens lábios que sempre prometeram amar-me para toda a eternidade. Mas foram apenas palavras, e já que não o conseguiste, cabe-me a mim cumprir definitivamente a promessa.

Lia.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Início de uma Epopeia sobre Inês de Castro



Proposição

As flores murchas e as lágrimas daquela fonte
Que viram morrer a maior heroína portuguesa
Assim o quiseram, que escrevesse perante este horizonte
De amor, alívio ou tristeza.
Relembro agora mesmo de fronte
Aquela flor de eterna beleza,
Que com o seu amor um novo reino edificou:
O reino da justiça que sempre sublimou.

Relembro o sorriso simples e glorioso
Da menina que a inocência carregava.
Relembro o desejo amargo e tenebroso
Que o povo por ela atiçava.
E a vida que ela tinha, era como um mar luminoso
De esperanças que com Pedro partilhava.
Cantarei essa tão rebelde paixão
Que até hoje em todos toca no coração.

E também as memórias daquele rei
Que sempre perserverou no seu amor,
Ao ponto de toda a sua lei
Ter ressuscitado do fundo da sua dor.
A fé e as obras valerosas que por toda a parte espalharei,
Que cantarei se a arte me ajudar no seu interior,
Serão relembradas por outros, com a paixão soberana
Do Romeu português e da Julieta castelhana.

Esqueçam logo as histórias que Béroul contou
Como Tristão e Isolda, uma história irreal.
Esqueçam tudo o que a musa antiga ecoou
Sobre Vénus e Marte e tudo o que seja sobrenatural.
Esqueçam as memórias que Shakespeare galgou
Sobre Macbeth, ou algo não tão magistral
Como os lábios incrédules vermelhos que quero cantar
De uma heroína que transformou Coímbra em água do mar.


Invocação

E vós, minha Deusa primeira
Que o maior dom sempre me concedestes,
Dai-me agora uma chama de uma enorme fogueira
Para escrever aquela grande paixão que protegestes.
E não só de como fora - uma simples lareira
Na minha história de amor que interrompestes.
Dai-me a arte para poder imperecivelmente criar,
Para que a escrita com o feito se possa assemelhar.

Vénus, vós que veneras o mais íntimo do ser,
Vós que sempre amastes Marte, o vosso coração,
Dai-me agora força, ternura e prazer
Para escrever a melhor e mais bonita canção.
Dai-me a vossa magestosidade para viver
Um amor tão rico e sem nenhuma ilusão.
Dai-me a vossa luxuosa experiência
Porque sempre a idolatrei com toda a veemência.

Lia.

domingo, 17 de junho de 2012

Second chance


Era uma vez duas criancinhas pequeninas e inocentes que sempre foram muito unidas. Passeavam juntos, descobriam as grandes cascatas de água de Oslo perto daquelas magníficas e deslumbrantes pradarias, brincavam na neve, sonhavam juntos, partilhavam o amanhã. A rapariga, Anni, tinha uns olhinhos tão azuis e tão bonitos como o mar, sardas, pele tão clara como o gelo que inundava o seu país e lábios tão vermelhos como as pétalas de uma rosa. Toda ela era uma rosa. Uma verdadeira branca de neve. Já Eirik, o rapaz, era diferente, muito moreno, pois os seus pais vieram de Itália. Tinha olhos castanhos e cabelo castanho escuro. Contudo, apesar das diferenças entre os dois, sempre se apoiaram em tudo e sempre estiveram juntos. Uma verdadeira amizade...
Até que, chegada a fase da adolescência, Anni apaixonou-se por um skater. Era muito bonito, um encanto. Loiro de olhos verdes, completamente desportista, com uma vida boémia e amava Anni como nunca amara ninguém. Tinha uma insaciável sede pelo seu corpo, pelos seus longos e encaracolados cabelos negros, pelos seus lábios que transbordavam sangue de perfeição. Sangue real, mas que nunca o fora. 
Dado a situação, contou tudo a Eirik, porque pensava que ele ficaria feliz por ela. Oh, ele iria adorar! Porém, o inesperado aconteceu, e Eirik revelou o segredo que sempre guardou consigo desde pequeno, bem lá no fundo do seu coração - ele sempre a amou, sempre a quis beijar, sempre ansiou o seu corpo, os seus lábios e os seus olhos. E quantas e quantas vezes dormiram na mesma casa sem Anni saber o que se passava! 
Mas a rapariga recusou.
Recusou por teimosia.
Recusou pelo corpo do seu namorado.
Recusou porque também sempre teve esse sentimento por Eirik, só que fora cedo demais.
Recusou "porque sim", e foi a única explicação plausível dada ao rapaz.
E, com tudo isto, aquela forte e soberba amizade apagava-se aos poucos. Não mais falavam, nem mais riam juntos. 
Até que Anni acordou. percebeu que o skater não tinha mais nada para lhe dar, e a sua teimosia desvaneceu-se. Então, o véu desfeito que separava os dois "amigos", voltou a ser o que era e a menina percebeu que estava completamente, loucamente e inacreditavelmente apaixonada por Eirik.
Mas ele recusou.
Recusou por orgulho.
Recusou por não querer voltar a sofrer.
Recusou porque era tarde demais.
Apenas recusou, mas ainda a amava, e muito. Ainda queria o seu corpo, ainda ansiava pela sua alma.
E nunca mais se falaram. Nunca mais se olharam nos olhos. Nunca mais brincaram juntos na neve, nunca mais descobriram o amanhã.

Passados muitos e muitos anos, Eirik, ainda solteiro, ligou a televisão e viu um anúncio de um concerto de Anni perto da sua casa. Tornara-se numa pianista famosa, um novo Chopin. Que alegria de a voltar a ver!
Rapidamente, pegou numa rosa vermelha do seu quintal, e foi ao concerto. Chorou. Também tinha direito. Chorou quando a ouviu tocar, quando descobriu o que perdera, quando voltou atrás e reencontrou aquele sorriso que sempre brilhou para ele. E soube logo o que tinha de fazer.
- Claire, por favor abre a porta.
- Estou a ir minha senhora! - Disse apressadamente a ama dos filhos de Anni.
E abriu a porta. Os olhares encontraram-se outra vez. A saudade escorreu pela face da pianista. Abraçaram-se e ele deu-lhe a vermelha rosa para ficar sempre junto do seu coração.
- Perdoa-me Anni, é tudo o que te peço. Eu amo-te... sempre te amei!
E Anni chorou torrencialmente. Não sabia o que fazer, o que dizer, ou até o que pensar.
- O que se passa amor? Quem é a visita? - Ecoou uma voz vinda do piso de cima, que lentamente foi descendo as escadas.
Era o marido da rapariga. Abraçou-a e beijou-a na testa. E Eirik percebeu tudo. Nada mais podia fazer naquele momento. Foi-se embora.

No dia seguinte, eles voltaram a encontrar-se na rua. Por destino talvez? Enquanto já ia cada um para o seu caminho, Anni voltou atrás:
- Espera Eirik!
Silêncio.
- Eu não vou voltar a fazer o mesmo erro. - disse desesperadamente a rapariga.
Dito isto, correu para junto dele e beijaram-se pela primeira vez.


Lia.

sábado, 16 de junho de 2012

The Courage.


Era uma vez um mundo totalmente diferente do vosso. Um mundo onde habitavam criaturas fantásticas, desde ogres, fadas, Deuses, enfim ... seres anormais. Apenas mutações genéticas derivadas do homem. Porém, o homem também coabitava naquele maravilhoso e fantástico lugar, juntamente com todas as outras criaturas, apesar de só servir para escravidão, abusos sexuais de sereias e alimento para vampiros ... Mas também, o que queria ele? Era apenas uma raça inferior, sem qualquer tipo de magia - ouvi dizer um dia. Eu não acho que seja assim, pois a raça humana tem muito mais para oferecer - uma alma, amor, vida. E não era só ela, mas sim também elfos e unicórnios, que espalhavam a bondade e os sentimentos por aquele mundo de desilusões.
Um dia, nasceu uma rapariga chamada Claire que iria mudar tudo, ou talvez não. Pelo menos o meu mundo. Uma elfo corajosa, que adorava sonhar e pensar no amanhã. Adorava respirar o ar puro da montanha, mergulhar nos rios imensos e profundos das sereias, e atrever-se a ir à fábrica de humanos para consumo, no reino dos vampiros, para libertar os mais pequeninos. E era assim a sua vida, pacata e serena, boémia e aventureira, feliz e sonhadora. 
Até que, num pequenino dia de inverno, houve uma tempestade que abalou todo o reino dos elfos, juntamente com um terramoto inesperado. E o palácio onde reinavam os Reis, pais de Claire, foi completamente destruído, e levou consigo o rasto de morte dos Reis e do reino. Claire ficou destroçada. Abandonada. Só. Embora todo o seu sofrimento tenha levado a rapariga ao desespero, ela teve um sonho. Real? Adequado? Não sei, só sei que os seus pais lhe disseram para destruir o maior tesouro do reino, a pedra de gelo - um pedaço de gelo com radioactividade suficiente para matar todo o planeta, há muito guardado pelos mais bondosos seres de todo o universo. Rapidamente, Claire encontrou a pedra. Porém -  sorte ou azar - quando ela dormia perto do tesouro, sentiu um ardor estranho nas entranhas, nas veias que  lhe cobriam o coração. E o ardor aumentou, e doía cada vez mais. Até que as costelas se romperam e cresceram asas, derivadas da pedra que entrou dentro dela. Asas, não como as das fadas, mas sim como as dos anjos, só que em gelo. Petrificadamente estupefacta, a rapariguinha não sabia o que fazer. Seria isto uma ponte para o suicídio? Seria a única saída, perguntava ela vezes e vezes e vezes sem conta, até que a sombria resposta lhe bateu à porta, como um falcão à espera da sua presa. Olhando-a nos olhos. Observando cada passo, cada gesto. Cada opção.
Na manhã seguinte, partiu. Partiu para um lugar longínquo, onde estava uma espada que conseguia matar elfos, já que eram imortais com qualquer outro instrumento. E lá foi caminhando, com mas sem rumo a seguir. O que poderia ser pior que a morte? Já não tinha de se preocupar com os humanos, ou com os lobisomens que atacavam constantemente o seu reino. Iria voltar a ver os seus amigos cogumelos com olhinhos fofinhos no céu, ou não seria assim? Voltaria a ver os seus pais, voltaria para casa, de onde foi criada pelos anjos e pelos arcanjos para o bem de toda a galáxia. E com a sua bondade salvaria tudo e todos.
Até que isto chegou aos ouvidos da raça humana, e começaram a pensar ... Não seria melhor ter aquela pequena pedrinha para deixarem de ser escravos? Assim ameaçariam as sereias, os ogres, as fadas, os vampiros, os lobisomens e toda a santa raça que os detestava? E foi assim que o plano começou. Pediram a um rapaz humano da idade de Claire que conseguisse a confiança dela, o seu amor, para depois lhe conseguir tirar a pedra com um aparelho próprio, construído por anões há muitos e muitos anos.
Por isso, enquanto estava a princesa a rezar até ao santuário, William apareceu na sua vida. E apenas com um sorriso seu, começou a deixá-la completamente maluca por ele. Era um rapaz extraordinário. Manejava muito bem o arco e a flexa, e salvava-a de todos os seres ambiciosos que queriam aquele poder. Contudo, o inesperado aconteceu novamente. William esqueceu-se completamente a sua missão, e começou a amá-la assim como ela o amava. Os seus verdes olhos já não reluziam para as suas asas, mas sim para o seu sorriso.
E chegaram ao destino. 
Entraram, silenciosamente, depois de um longo e doce beijo de despedida para Claire, mas de esperança para William. 
E encontraram a espada. Uma lenda, um mito que iria acabar por se tornar realidade, assombrosamente.
Vendo a espada, as asas de Claire escureceram, sabiam o que se iria passar, e por isso, começaram a sua missão: lançaram um pouco de radioactividade para todos os reinos. Vendo aquilo, Claire tentou pegar na espada, mas não conseguiu. Era pesada, e não saía da pedra onde estava há milénios, ainda quando os humanos dominavam o planeta, o sistema solar, a galáxia inteira com as suas naves de anos-luz. Até que uma luz vinda de William brilhou como nunca brilhara, e as asas foram transportadas para o seu corpo frágil, sensível, simples de humano. A rapariga estava livre. E, num acto de fúria, coragem e amor, o rapazito libertou a espada da pedra e espetou-a desoladamente no seu coração...
O mundo estava salvo.
A princesa chorou inerte e tristemente o amor da sua vida, mas magnificamente o salvador do seu reino, de todos.
Curiosamente, foi um humano.
Eu sei porque estava lá, eu presenciei o meu melhor amigo morrer e sacrificar-se por ela. Porquê? Porque é que ele a escolheu e não a mim que sou da sua raça? Deveria de ter sido concedido a mim o seu último beijo, e não àquela ... criatura?
Eu vi o que nunca quis ver.

Lia.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Chocolate quente

Como tenho exame de Língua Portuguesa na próxima segunda feira, refiz alguns testes deste ano, e encontrei um exercício em que estavam 9 imagens. Tínhamos de escolher uma e escrever um texto expressivo e com linguagem conotativa acerca dela, entre 100 e 130 palavras. E como várias vezes a minha professora me disse que não posso escrever textos tão grandes porque se escrever mais do que 240 palavras no exame perco 1 a 2 pontos, aceitei o desafio e aqui está o texto. A imagem que escolhi foi a de um chocolate quente:


Lembro-me. Estava eu a ver os graciosos e suaves flocos de neve a caírem como folhinhas, quando ouvi a campainha. 
E depois um silêncio.
E abri a porta. Visualizei um vulto, uma mulher, a minha mãe. Não nos falávamos há algum tempo, pois tinhamo-nos incompatibilizado. Porém, ela decidiu dar um passo em frente em relação a isso e veio refazer um final feliz. Não a censuro, pois também o queria. E trouxe chocolate quente para aquela manhã de inverno. 
E depois outro silêncio. Só ouviamos o murmúrio e o sussurrar dos floquinhos, do vento a bater na árvorezinha que serviria de acolhimento às prendinhas.
E entregou-me o chocolate. 
E dois sorrisos esvoaçaram naquele gélido clima.
E com o chocolate desapareceu toda a neve. A esperança. O começo de uma nova amizade.

Nº de palavras - 130

Lia :)

Baile de máscaras


E acordei. Foi um bonito sonho, para quem dizia que não estava apaixonada. Seria verdade, ou apenas mais uma façanha do meu coração?
Lembro-me de muito. Situava-me no verão de 1900, numa época maravilhosa. Época de grandes vestidos, de poemas, de amor, de sonhos - a Belle Époque. Lembro-me que tinha ido a um majestoso baile de máscaras de um mercador rico de Lisboa, amigo do meu pai, e que tinha levado aquele meu vestido de cetim, rodado, comprido. Dava-me pelo calcanhar, e as bonitas manguinhas em forma de balão caíam-me pelos ombros, suaves como pétalas de uma rosa branca. Toda ela enaltecida de rendas e rendinhas que davam vida à obra. Fora comprado nas mais caras lojas de Paris, e por isso, muito admirado por todos naquele festejo. Também levei comigo uma máscara branca, que me cobria a face e as rosetas, feita de penas de cisne luxuosas. Completamente sedosas. Perfeitamente sedutoras.
Enquanto dançava sozinha ao som de Debussy, Chopin e muito romantismo, um rapaz foi ter comigo. Sabia que era diferente. Tinha olhos muito azuis e um cabelo tão loiro e brilhante. Porém, não conseguia ver o seu rosto, pois também estava coberto com uma máscara de tom azul escuro, quase semelhante ao preto. Cuidadosamente, fez-me um pedido. Pediu-me para dançar com ele, mas não em português. Uma nova língua. Alemão, talvez?  Claro que era, sabia que sim. Percebi tudo, pois estive na Alemanha durante dois anos e captei muito bem a língua. Rapidamente, aceitei e começámos a dançar. O palco era nosso. Os outros convidados preferiam ver-nos dançar do que propriamente fazê-lo. Talvez por sermos um par tão perfeito, na minha opinião. Cautelosamente, cada passo, cada gesto tentava assegurar-se de que não magoaria o outro. Até que, já no áus daquele clima, e passados longos minutos e longos passos de dança, ele puxou-me na sua direcção, e ficámos encostadinhos um ao outro. Senti-me feliz, pela primeira vez em muito tempo. 
Até que a ilusão terminou, a música parou. Graciosamente, fiz-lhe uma vénia e ele sorriu para mim. Naquele momento, apaixonei-me por aquele sorriso.
E passámos o resto do baile a trocar olhares. Ficávamos felizes apenas de o fazer. 
E sorrimos.
E o baile acabou. Contudo, para muito do meu espanto, no final, quando eu estava à espera do meu pai, ele pegou na minha mão e esvoaçámos ao longo das docas. Vimos o mar. Ele raptou-me de uma forma tão doce... Raptou primeiro o meu coração.
Estivemos muito tempo na praia. Eu, com o meu longo vestido, fui à beira mar. Senti-me em casa. E, quando nada mais tínhamos para dizer um ao outro, atrevi-me e retirei-lhe a mascarazinha. Que amor! Que anjo! Ele era simplesmente... Lindo, um príncipe. O príncipe herdeiro da Áustria, com uma branca pele e faces rosadas, sardas e sardinhas. Quanta beleza que Deus lhe deu que nunca vira ninguém assim. 
Depois de lhe tirar a máscara, ele fez-me o mesmo, e aos poucos e poucos, os seus olhos foram brilhando cada vez mais para mim.
Até que, por volta da meia noite, juntamente com ventos a congelarem tudo e todos, ele aproximou-se novamente de mim, mas desta vez com um pouco mais de confiança, e beijámo-nos ao som do luar. A música da noite - o uivar. Ao som daquela noite recheada de esperanças e desejos. 
E assim nos tivemos um ao outro, o que sempre quisemos desde aquela dança. Aquele aperto de coração. Senti-me novamente feliz, livre, principalmente naquela praia que parecia não ter fim, nem recear os ventos malignos que destroem a mais ínfima pedrinha.
Como eu costumo dizer - feliz, ao lado de um anjo.

Lia.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Auschwitz

                             

Naquela casa que ninguém quis conhecer
Eu lá vivi algo que não posso contar.
Mas sei que guardarás segredo. Será assim meu anjo?
Eu sei que sim… temes que lá volte a entrar.

Estava assombrada, cheirava a morte,
Era noite em todos os cantos traiçoeiros.
Apenas quatro extensas paredes abandonadas
Em Auschwitz, perto de grandes desfiladeiros.

Naquela habitação, se assim a devo chamar,
O maior sonho que tinha concretizou-se...
Voltei a ver o rapaz de fogo e de gelo
E mesmo um guia morto, declarou-se:

Estava o meu olhar disperso
Por aquelas quatro paredes de loucura
Quando a memória se aproximou,
Já branca, pálida e com ternura.

Voltaram a cruzar-se os mesmos olhares
Que se tinham enfeitiçado antes de partir
Para a grande e absurda fila da morte,
E assim o esquecimento me exigir.

Meu anjo, perguntei por ti
Para seres a minha escuridão…
Mas será que estou preparada
Para  o voltar a aceitar no coração?

Lia (:

segunda-feira, 11 de junho de 2012

An Angel II


No inicio, consigo ouvir a sua voz. É melodiosa, como a de um pequeno rouxinol cantando ao amanhecer, com um toque de esperança, mas não é humana… é tão bela que sinto as árvores dançarem ao seu som. Sinto-as a sorrir para mim. Sinto-as partilharem comigo a sua alegria, o seu afecto. Sinto-me meio zonza, com muitas tonturas. Tonturas de felicidade. De seguida, liberto a minha mente. Liberto-a de todos os meus receios, de toda a minha ansiedade. Apenas quero ver o portador da voz, quero ver como ele é. Estou curiosa, deslumbrada, enfeitiçada… enfeitiçada por aquela voz masculina, que me chama. Ouço-a aproximar-se cada vez mais… o meu coração está a palpitar tão depressa, que quase que não consigo respirar. Sustenho a respiração por uns instantes, mas parece não valer de nada…
Estou perto de um lago. Sinto o romper da primavera. Cheiro o odor da relva molhada, da neve a derreter, do começo. Até que, diante do luar sepulcral, vejo um rapaz. Estou enraizada ao chão, o meu corpo não me obedece. Abro um pouco a boca, mas não me ocorre nada para dizer, pois nenhum adjectivo é indicado para descrever o que vejo… á minha frente, a poucos metros de distância de mim, está um rapaz com um tom de pele claro, como se apanhasse as estrelas e as colocasse no seu corpo branco, brilhante, magro, sedutor… tem um tom de cabelo muito… talvez curioso seja a palavra certa: é de um tom loiro escuro, com algumas madeixas ruivas. E os olhos… bem, os olhos são tão verdes que conseguem focar o olhar de todos. Tão deslumbrantes que qualquer rapariga, mesmo a mais bela, ficaria encantada, enfeitiçada, como me sinto agora… veste-se com uma cor tão branca, que me encandeia os olhos.
Ele pára. Ele move-se novamente ao meu encontro, e só nesse momento consigo ver as suas asas. São esbranquiçadas, um pouco pérola. Não tão brancas quanto as roupas. Feitas de suaves e leves penas que nada se parecem com as de uma ave. São mais brilhantes. Mais espantosas. Mais únicas…
 O seu corpo está mais perto do meu. Eu, ouvindo o coração, vou mais para junto dele. E aí, olha-me com os seus grandes e mágicos olhos verdes. De repente, sinto um arrepio. Não de frio, mas de dor, angústia, perda. Sinto-me sozinha, vazia. Recuo o meu olhar para o chão.
- Calma. Está tudo bem. Estou aqui… - diz-me ele, sorrindo, e com a sua voz pura, tranquila, harmonizada.
Toca na minha face. Tocamo-nos pela primeira vez. Aí, sinto uma alegria intensa, e uma lágrima escorre-me pela cara. Começo a sentir uma certa ansiedade… ansiedade de o ter… desejo de o beijar… estou perdida nos meus pensamentos, até que os seus lábios ficam bastante perto dos meus. Quando me apercebo, o meu coração evade-se de uma estranha e curiosa emoção, uma que nunca antes sentira. De uma emoção bastante forte, de um sentimento bastante perturbador… sinto-me como se não existisse o amanhã. Preocupo-me apenas com o hoje, o agora, o momento, pois, de certa forma, iria beijar um ser sobrenatural.     O rapaz mais perfeito que alguma vez conhecera.
Um anjo…
De repente, acordo.
Não é a primeira vez que sonho com ele. Desde á duas semanas para cá que o sonho por volta de dois em dois dias. Sempre o mesmo sonho. Sempre o mesmo rapaz. Sempre a mesma esperança, a mesma emoção, que depois nunca acaba por se concretizar por completo…
Estou curiosa. Tenho tantas perguntas a rodearem-me. Tantas perguntas sem uma única resposta. Tantas perguntas que se aglomeram apenas numa só: será que algum dia o conseguirei beijar?

Lia.