sábado, 30 de junho de 2012

Thinking of you - Katy Perry


A história recorda sempre a vitória de uma grande batalha, mas não o sangue derramado. Não as lágrimas, o sofrimento, a solidão, o vazio. Contudo, eu lembro-me e bem de tudo isso. Eu passei por isso, perdi-te de uma forma tão cruel que é impossível não me recordar do teu sorriso, dos teus lábios, da tua vida como homem, como namorado, como um "tudo para mim".

O único pedido que faço nas minhas orações, apesar de incredulamente impossível, é poder voltar àquele dia, quando me tinhas feito uma surpresa repetitiva que sempre adorei - um piquenique. Era deveras engraçado, mágico. Lembrava-me que a minha vida era um conto de fadas onde o pobre rapaz levava a princesinha a conhecer o seu mundo, a vida para além do castelo encantado, as lindas flores dignas de serem um elemento fundamental na poesia dos melhores poetas já transformados em lendas pelos aldeões e até pela gente mais nobre, como eu. Afinal, a história prefere lendas a homens, sempre preferiu. Adorava poder voltar a esse dia, quando viste colado num pequeno carvalho o cartaz " I want you for the U.S. Army". Adorava dizer-te que nunca quis que fosses, que te tornasses um herói, porque já o eras no meu coração, nunca quis que me abandonasses assim, que me desamparasses. Tu sim, eras e és o meu verdadeiro castelo, não ele. Oh, o Henry... É a pessoa que tem procurado e lutado pelo meu sorriso, desde que te separaste de mim, de nós. Porém, a verdade é que não gosto dele como ele quer, porque simplesmente não consigo gostar. Simplesmente, quando ele beija os meus lábios, eu provo a tua boca, e quando ele me puxa para perto dele, eu apenas sinto nojo de mim mesma. Será isto normal? Sabes porque sim? Porque quando estou com ele, estou sempre a pensar em ti. E isso eu não posso mudar.

Já não aguento mais. Preciso de sentir o teu quente corpo cheio de vida. Preciso de beijar esses virgens lábios que sempre prometeram amar-me para toda a eternidade. Mas foram apenas palavras, e já que não o conseguiste, cabe-me a mim cumprir definitivamente a promessa.

Lia.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Início de uma Epopeia sobre Inês de Castro



Proposição

As flores murchas e as lágrimas daquela fonte
Que viram morrer a maior heroína portuguesa
Assim o quiseram, que escrevesse perante este horizonte
De amor, alívio ou tristeza.
Relembro agora mesmo de fronte
Aquela flor de eterna beleza,
Que com o seu amor um novo reino edificou:
O reino da justiça que sempre sublimou.

Relembro o sorriso simples e glorioso
Da menina que a inocência carregava.
Relembro o desejo amargo e tenebroso
Que o povo por ela atiçava.
E a vida que ela tinha, era como um mar luminoso
De esperanças que com Pedro partilhava.
Cantarei essa tão rebelde paixão
Que até hoje em todos toca no coração.

E também as memórias daquele rei
Que sempre perserverou no seu amor,
Ao ponto de toda a sua lei
Ter ressuscitado do fundo da sua dor.
A fé e as obras valerosas que por toda a parte espalharei,
Que cantarei se a arte me ajudar no seu interior,
Serão relembradas por outros, com a paixão soberana
Do Romeu português e da Julieta castelhana.

Esqueçam logo as histórias que Béroul contou
Como Tristão e Isolda, uma história irreal.
Esqueçam tudo o que a musa antiga ecoou
Sobre Vénus e Marte e tudo o que seja sobrenatural.
Esqueçam as memórias que Shakespeare galgou
Sobre Macbeth, ou algo não tão magistral
Como os lábios incrédules vermelhos que quero cantar
De uma heroína que transformou Coímbra em água do mar.


Invocação

E vós, minha Deusa primeira
Que o maior dom sempre me concedestes,
Dai-me agora uma chama de uma enorme fogueira
Para escrever aquela grande paixão que protegestes.
E não só de como fora - uma simples lareira
Na minha história de amor que interrompestes.
Dai-me a arte para poder imperecivelmente criar,
Para que a escrita com o feito se possa assemelhar.

Vénus, vós que veneras o mais íntimo do ser,
Vós que sempre amastes Marte, o vosso coração,
Dai-me agora força, ternura e prazer
Para escrever a melhor e mais bonita canção.
Dai-me a vossa magestosidade para viver
Um amor tão rico e sem nenhuma ilusão.
Dai-me a vossa luxuosa experiência
Porque sempre a idolatrei com toda a veemência.

Lia.

domingo, 17 de junho de 2012

Second chance


Era uma vez duas criancinhas pequeninas e inocentes que sempre foram muito unidas. Passeavam juntos, descobriam as grandes cascatas de água de Oslo perto daquelas magníficas e deslumbrantes pradarias, brincavam na neve, sonhavam juntos, partilhavam o amanhã. A rapariga, Anni, tinha uns olhinhos tão azuis e tão bonitos como o mar, sardas, pele tão clara como o gelo que inundava o seu país e lábios tão vermelhos como as pétalas de uma rosa. Toda ela era uma rosa. Uma verdadeira branca de neve. Já Eirik, o rapaz, era diferente, muito moreno, pois os seus pais vieram de Itália. Tinha olhos castanhos e cabelo castanho escuro. Contudo, apesar das diferenças entre os dois, sempre se apoiaram em tudo e sempre estiveram juntos. Uma verdadeira amizade...
Até que, chegada a fase da adolescência, Anni apaixonou-se por um skater. Era muito bonito, um encanto. Loiro de olhos verdes, completamente desportista, com uma vida boémia e amava Anni como nunca amara ninguém. Tinha uma insaciável sede pelo seu corpo, pelos seus longos e encaracolados cabelos negros, pelos seus lábios que transbordavam sangue de perfeição. Sangue real, mas que nunca o fora. 
Dado a situação, contou tudo a Eirik, porque pensava que ele ficaria feliz por ela. Oh, ele iria adorar! Porém, o inesperado aconteceu, e Eirik revelou o segredo que sempre guardou consigo desde pequeno, bem lá no fundo do seu coração - ele sempre a amou, sempre a quis beijar, sempre ansiou o seu corpo, os seus lábios e os seus olhos. E quantas e quantas vezes dormiram na mesma casa sem Anni saber o que se passava! 
Mas a rapariga recusou.
Recusou por teimosia.
Recusou pelo corpo do seu namorado.
Recusou porque também sempre teve esse sentimento por Eirik, só que fora cedo demais.
Recusou "porque sim", e foi a única explicação plausível dada ao rapaz.
E, com tudo isto, aquela forte e soberba amizade apagava-se aos poucos. Não mais falavam, nem mais riam juntos. 
Até que Anni acordou. percebeu que o skater não tinha mais nada para lhe dar, e a sua teimosia desvaneceu-se. Então, o véu desfeito que separava os dois "amigos", voltou a ser o que era e a menina percebeu que estava completamente, loucamente e inacreditavelmente apaixonada por Eirik.
Mas ele recusou.
Recusou por orgulho.
Recusou por não querer voltar a sofrer.
Recusou porque era tarde demais.
Apenas recusou, mas ainda a amava, e muito. Ainda queria o seu corpo, ainda ansiava pela sua alma.
E nunca mais se falaram. Nunca mais se olharam nos olhos. Nunca mais brincaram juntos na neve, nunca mais descobriram o amanhã.

Passados muitos e muitos anos, Eirik, ainda solteiro, ligou a televisão e viu um anúncio de um concerto de Anni perto da sua casa. Tornara-se numa pianista famosa, um novo Chopin. Que alegria de a voltar a ver!
Rapidamente, pegou numa rosa vermelha do seu quintal, e foi ao concerto. Chorou. Também tinha direito. Chorou quando a ouviu tocar, quando descobriu o que perdera, quando voltou atrás e reencontrou aquele sorriso que sempre brilhou para ele. E soube logo o que tinha de fazer.
- Claire, por favor abre a porta.
- Estou a ir minha senhora! - Disse apressadamente a ama dos filhos de Anni.
E abriu a porta. Os olhares encontraram-se outra vez. A saudade escorreu pela face da pianista. Abraçaram-se e ele deu-lhe a vermelha rosa para ficar sempre junto do seu coração.
- Perdoa-me Anni, é tudo o que te peço. Eu amo-te... sempre te amei!
E Anni chorou torrencialmente. Não sabia o que fazer, o que dizer, ou até o que pensar.
- O que se passa amor? Quem é a visita? - Ecoou uma voz vinda do piso de cima, que lentamente foi descendo as escadas.
Era o marido da rapariga. Abraçou-a e beijou-a na testa. E Eirik percebeu tudo. Nada mais podia fazer naquele momento. Foi-se embora.

No dia seguinte, eles voltaram a encontrar-se na rua. Por destino talvez? Enquanto já ia cada um para o seu caminho, Anni voltou atrás:
- Espera Eirik!
Silêncio.
- Eu não vou voltar a fazer o mesmo erro. - disse desesperadamente a rapariga.
Dito isto, correu para junto dele e beijaram-se pela primeira vez.


Lia.

sábado, 16 de junho de 2012

The Courage.


Era uma vez um mundo totalmente diferente do vosso. Um mundo onde habitavam criaturas fantásticas, desde ogres, fadas, Deuses, enfim ... seres anormais. Apenas mutações genéticas derivadas do homem. Porém, o homem também coabitava naquele maravilhoso e fantástico lugar, juntamente com todas as outras criaturas, apesar de só servir para escravidão, abusos sexuais de sereias e alimento para vampiros ... Mas também, o que queria ele? Era apenas uma raça inferior, sem qualquer tipo de magia - ouvi dizer um dia. Eu não acho que seja assim, pois a raça humana tem muito mais para oferecer - uma alma, amor, vida. E não era só ela, mas sim também elfos e unicórnios, que espalhavam a bondade e os sentimentos por aquele mundo de desilusões.
Um dia, nasceu uma rapariga chamada Claire que iria mudar tudo, ou talvez não. Pelo menos o meu mundo. Uma elfo corajosa, que adorava sonhar e pensar no amanhã. Adorava respirar o ar puro da montanha, mergulhar nos rios imensos e profundos das sereias, e atrever-se a ir à fábrica de humanos para consumo, no reino dos vampiros, para libertar os mais pequeninos. E era assim a sua vida, pacata e serena, boémia e aventureira, feliz e sonhadora. 
Até que, num pequenino dia de inverno, houve uma tempestade que abalou todo o reino dos elfos, juntamente com um terramoto inesperado. E o palácio onde reinavam os Reis, pais de Claire, foi completamente destruído, e levou consigo o rasto de morte dos Reis e do reino. Claire ficou destroçada. Abandonada. Só. Embora todo o seu sofrimento tenha levado a rapariga ao desespero, ela teve um sonho. Real? Adequado? Não sei, só sei que os seus pais lhe disseram para destruir o maior tesouro do reino, a pedra de gelo - um pedaço de gelo com radioactividade suficiente para matar todo o planeta, há muito guardado pelos mais bondosos seres de todo o universo. Rapidamente, Claire encontrou a pedra. Porém -  sorte ou azar - quando ela dormia perto do tesouro, sentiu um ardor estranho nas entranhas, nas veias que  lhe cobriam o coração. E o ardor aumentou, e doía cada vez mais. Até que as costelas se romperam e cresceram asas, derivadas da pedra que entrou dentro dela. Asas, não como as das fadas, mas sim como as dos anjos, só que em gelo. Petrificadamente estupefacta, a rapariguinha não sabia o que fazer. Seria isto uma ponte para o suicídio? Seria a única saída, perguntava ela vezes e vezes e vezes sem conta, até que a sombria resposta lhe bateu à porta, como um falcão à espera da sua presa. Olhando-a nos olhos. Observando cada passo, cada gesto. Cada opção.
Na manhã seguinte, partiu. Partiu para um lugar longínquo, onde estava uma espada que conseguia matar elfos, já que eram imortais com qualquer outro instrumento. E lá foi caminhando, com mas sem rumo a seguir. O que poderia ser pior que a morte? Já não tinha de se preocupar com os humanos, ou com os lobisomens que atacavam constantemente o seu reino. Iria voltar a ver os seus amigos cogumelos com olhinhos fofinhos no céu, ou não seria assim? Voltaria a ver os seus pais, voltaria para casa, de onde foi criada pelos anjos e pelos arcanjos para o bem de toda a galáxia. E com a sua bondade salvaria tudo e todos.
Até que isto chegou aos ouvidos da raça humana, e começaram a pensar ... Não seria melhor ter aquela pequena pedrinha para deixarem de ser escravos? Assim ameaçariam as sereias, os ogres, as fadas, os vampiros, os lobisomens e toda a santa raça que os detestava? E foi assim que o plano começou. Pediram a um rapaz humano da idade de Claire que conseguisse a confiança dela, o seu amor, para depois lhe conseguir tirar a pedra com um aparelho próprio, construído por anões há muitos e muitos anos.
Por isso, enquanto estava a princesa a rezar até ao santuário, William apareceu na sua vida. E apenas com um sorriso seu, começou a deixá-la completamente maluca por ele. Era um rapaz extraordinário. Manejava muito bem o arco e a flexa, e salvava-a de todos os seres ambiciosos que queriam aquele poder. Contudo, o inesperado aconteceu novamente. William esqueceu-se completamente a sua missão, e começou a amá-la assim como ela o amava. Os seus verdes olhos já não reluziam para as suas asas, mas sim para o seu sorriso.
E chegaram ao destino. 
Entraram, silenciosamente, depois de um longo e doce beijo de despedida para Claire, mas de esperança para William. 
E encontraram a espada. Uma lenda, um mito que iria acabar por se tornar realidade, assombrosamente.
Vendo a espada, as asas de Claire escureceram, sabiam o que se iria passar, e por isso, começaram a sua missão: lançaram um pouco de radioactividade para todos os reinos. Vendo aquilo, Claire tentou pegar na espada, mas não conseguiu. Era pesada, e não saía da pedra onde estava há milénios, ainda quando os humanos dominavam o planeta, o sistema solar, a galáxia inteira com as suas naves de anos-luz. Até que uma luz vinda de William brilhou como nunca brilhara, e as asas foram transportadas para o seu corpo frágil, sensível, simples de humano. A rapariga estava livre. E, num acto de fúria, coragem e amor, o rapazito libertou a espada da pedra e espetou-a desoladamente no seu coração...
O mundo estava salvo.
A princesa chorou inerte e tristemente o amor da sua vida, mas magnificamente o salvador do seu reino, de todos.
Curiosamente, foi um humano.
Eu sei porque estava lá, eu presenciei o meu melhor amigo morrer e sacrificar-se por ela. Porquê? Porque é que ele a escolheu e não a mim que sou da sua raça? Deveria de ter sido concedido a mim o seu último beijo, e não àquela ... criatura?
Eu vi o que nunca quis ver.

Lia.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Chocolate quente

Como tenho exame de Língua Portuguesa na próxima segunda feira, refiz alguns testes deste ano, e encontrei um exercício em que estavam 9 imagens. Tínhamos de escolher uma e escrever um texto expressivo e com linguagem conotativa acerca dela, entre 100 e 130 palavras. E como várias vezes a minha professora me disse que não posso escrever textos tão grandes porque se escrever mais do que 240 palavras no exame perco 1 a 2 pontos, aceitei o desafio e aqui está o texto. A imagem que escolhi foi a de um chocolate quente:


Lembro-me. Estava eu a ver os graciosos e suaves flocos de neve a caírem como folhinhas, quando ouvi a campainha. 
E depois um silêncio.
E abri a porta. Visualizei um vulto, uma mulher, a minha mãe. Não nos falávamos há algum tempo, pois tinhamo-nos incompatibilizado. Porém, ela decidiu dar um passo em frente em relação a isso e veio refazer um final feliz. Não a censuro, pois também o queria. E trouxe chocolate quente para aquela manhã de inverno. 
E depois outro silêncio. Só ouviamos o murmúrio e o sussurrar dos floquinhos, do vento a bater na árvorezinha que serviria de acolhimento às prendinhas.
E entregou-me o chocolate. 
E dois sorrisos esvoaçaram naquele gélido clima.
E com o chocolate desapareceu toda a neve. A esperança. O começo de uma nova amizade.

Nº de palavras - 130

Lia :)

Baile de máscaras


E acordei. Foi um bonito sonho, para quem dizia que não estava apaixonada. Seria verdade, ou apenas mais uma façanha do meu coração?
Lembro-me de muito. Situava-me no verão de 1900, numa época maravilhosa. Época de grandes vestidos, de poemas, de amor, de sonhos - a Belle Époque. Lembro-me que tinha ido a um majestoso baile de máscaras de um mercador rico de Lisboa, amigo do meu pai, e que tinha levado aquele meu vestido de cetim, rodado, comprido. Dava-me pelo calcanhar, e as bonitas manguinhas em forma de balão caíam-me pelos ombros, suaves como pétalas de uma rosa branca. Toda ela enaltecida de rendas e rendinhas que davam vida à obra. Fora comprado nas mais caras lojas de Paris, e por isso, muito admirado por todos naquele festejo. Também levei comigo uma máscara branca, que me cobria a face e as rosetas, feita de penas de cisne luxuosas. Completamente sedosas. Perfeitamente sedutoras.
Enquanto dançava sozinha ao som de Debussy, Chopin e muito romantismo, um rapaz foi ter comigo. Sabia que era diferente. Tinha olhos muito azuis e um cabelo tão loiro e brilhante. Porém, não conseguia ver o seu rosto, pois também estava coberto com uma máscara de tom azul escuro, quase semelhante ao preto. Cuidadosamente, fez-me um pedido. Pediu-me para dançar com ele, mas não em português. Uma nova língua. Alemão, talvez?  Claro que era, sabia que sim. Percebi tudo, pois estive na Alemanha durante dois anos e captei muito bem a língua. Rapidamente, aceitei e começámos a dançar. O palco era nosso. Os outros convidados preferiam ver-nos dançar do que propriamente fazê-lo. Talvez por sermos um par tão perfeito, na minha opinião. Cautelosamente, cada passo, cada gesto tentava assegurar-se de que não magoaria o outro. Até que, já no áus daquele clima, e passados longos minutos e longos passos de dança, ele puxou-me na sua direcção, e ficámos encostadinhos um ao outro. Senti-me feliz, pela primeira vez em muito tempo. 
Até que a ilusão terminou, a música parou. Graciosamente, fiz-lhe uma vénia e ele sorriu para mim. Naquele momento, apaixonei-me por aquele sorriso.
E passámos o resto do baile a trocar olhares. Ficávamos felizes apenas de o fazer. 
E sorrimos.
E o baile acabou. Contudo, para muito do meu espanto, no final, quando eu estava à espera do meu pai, ele pegou na minha mão e esvoaçámos ao longo das docas. Vimos o mar. Ele raptou-me de uma forma tão doce... Raptou primeiro o meu coração.
Estivemos muito tempo na praia. Eu, com o meu longo vestido, fui à beira mar. Senti-me em casa. E, quando nada mais tínhamos para dizer um ao outro, atrevi-me e retirei-lhe a mascarazinha. Que amor! Que anjo! Ele era simplesmente... Lindo, um príncipe. O príncipe herdeiro da Áustria, com uma branca pele e faces rosadas, sardas e sardinhas. Quanta beleza que Deus lhe deu que nunca vira ninguém assim. 
Depois de lhe tirar a máscara, ele fez-me o mesmo, e aos poucos e poucos, os seus olhos foram brilhando cada vez mais para mim.
Até que, por volta da meia noite, juntamente com ventos a congelarem tudo e todos, ele aproximou-se novamente de mim, mas desta vez com um pouco mais de confiança, e beijámo-nos ao som do luar. A música da noite - o uivar. Ao som daquela noite recheada de esperanças e desejos. 
E assim nos tivemos um ao outro, o que sempre quisemos desde aquela dança. Aquele aperto de coração. Senti-me novamente feliz, livre, principalmente naquela praia que parecia não ter fim, nem recear os ventos malignos que destroem a mais ínfima pedrinha.
Como eu costumo dizer - feliz, ao lado de um anjo.

Lia.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Auschwitz

                             

Naquela casa que ninguém quis conhecer
Eu lá vivi algo que não posso contar.
Mas sei que guardarás segredo. Será assim meu anjo?
Eu sei que sim… temes que lá volte a entrar.

Estava assombrada, cheirava a morte,
Era noite em todos os cantos traiçoeiros.
Apenas quatro extensas paredes abandonadas
Em Auschwitz, perto de grandes desfiladeiros.

Naquela habitação, se assim a devo chamar,
O maior sonho que tinha concretizou-se...
Voltei a ver o rapaz de fogo e de gelo
E mesmo um guia morto, declarou-se:

Estava o meu olhar disperso
Por aquelas quatro paredes de loucura
Quando a memória se aproximou,
Já branca, pálida e com ternura.

Voltaram a cruzar-se os mesmos olhares
Que se tinham enfeitiçado antes de partir
Para a grande e absurda fila da morte,
E assim o esquecimento me exigir.

Meu anjo, perguntei por ti
Para seres a minha escuridão…
Mas será que estou preparada
Para  o voltar a aceitar no coração?

Lia (:

segunda-feira, 11 de junho de 2012

An Angel II


No inicio, consigo ouvir a sua voz. É melodiosa, como a de um pequeno rouxinol cantando ao amanhecer, com um toque de esperança, mas não é humana… é tão bela que sinto as árvores dançarem ao seu som. Sinto-as a sorrir para mim. Sinto-as partilharem comigo a sua alegria, o seu afecto. Sinto-me meio zonza, com muitas tonturas. Tonturas de felicidade. De seguida, liberto a minha mente. Liberto-a de todos os meus receios, de toda a minha ansiedade. Apenas quero ver o portador da voz, quero ver como ele é. Estou curiosa, deslumbrada, enfeitiçada… enfeitiçada por aquela voz masculina, que me chama. Ouço-a aproximar-se cada vez mais… o meu coração está a palpitar tão depressa, que quase que não consigo respirar. Sustenho a respiração por uns instantes, mas parece não valer de nada…
Estou perto de um lago. Sinto o romper da primavera. Cheiro o odor da relva molhada, da neve a derreter, do começo. Até que, diante do luar sepulcral, vejo um rapaz. Estou enraizada ao chão, o meu corpo não me obedece. Abro um pouco a boca, mas não me ocorre nada para dizer, pois nenhum adjectivo é indicado para descrever o que vejo… á minha frente, a poucos metros de distância de mim, está um rapaz com um tom de pele claro, como se apanhasse as estrelas e as colocasse no seu corpo branco, brilhante, magro, sedutor… tem um tom de cabelo muito… talvez curioso seja a palavra certa: é de um tom loiro escuro, com algumas madeixas ruivas. E os olhos… bem, os olhos são tão verdes que conseguem focar o olhar de todos. Tão deslumbrantes que qualquer rapariga, mesmo a mais bela, ficaria encantada, enfeitiçada, como me sinto agora… veste-se com uma cor tão branca, que me encandeia os olhos.
Ele pára. Ele move-se novamente ao meu encontro, e só nesse momento consigo ver as suas asas. São esbranquiçadas, um pouco pérola. Não tão brancas quanto as roupas. Feitas de suaves e leves penas que nada se parecem com as de uma ave. São mais brilhantes. Mais espantosas. Mais únicas…
 O seu corpo está mais perto do meu. Eu, ouvindo o coração, vou mais para junto dele. E aí, olha-me com os seus grandes e mágicos olhos verdes. De repente, sinto um arrepio. Não de frio, mas de dor, angústia, perda. Sinto-me sozinha, vazia. Recuo o meu olhar para o chão.
- Calma. Está tudo bem. Estou aqui… - diz-me ele, sorrindo, e com a sua voz pura, tranquila, harmonizada.
Toca na minha face. Tocamo-nos pela primeira vez. Aí, sinto uma alegria intensa, e uma lágrima escorre-me pela cara. Começo a sentir uma certa ansiedade… ansiedade de o ter… desejo de o beijar… estou perdida nos meus pensamentos, até que os seus lábios ficam bastante perto dos meus. Quando me apercebo, o meu coração evade-se de uma estranha e curiosa emoção, uma que nunca antes sentira. De uma emoção bastante forte, de um sentimento bastante perturbador… sinto-me como se não existisse o amanhã. Preocupo-me apenas com o hoje, o agora, o momento, pois, de certa forma, iria beijar um ser sobrenatural.     O rapaz mais perfeito que alguma vez conhecera.
Um anjo…
De repente, acordo.
Não é a primeira vez que sonho com ele. Desde á duas semanas para cá que o sonho por volta de dois em dois dias. Sempre o mesmo sonho. Sempre o mesmo rapaz. Sempre a mesma esperança, a mesma emoção, que depois nunca acaba por se concretizar por completo…
Estou curiosa. Tenho tantas perguntas a rodearem-me. Tantas perguntas sem uma única resposta. Tantas perguntas que se aglomeram apenas numa só: será que algum dia o conseguirei beijar?

Lia.

sábado, 9 de junho de 2012

Soneto - Itália, a nova pátria do meu coração


Mergulho no eterno pensamento que me transforma,
imagino como será a ilusão
de hoje à noite, que jamais irá passar
no centro do seu coração.

Houveram tempos em que um "Buongiorno principessa" eu ouvi,
pois foi a minha única forma de sorrir.
Contudo, tive medo de não encontrar
aquele homem que nunca o vento viu partir.

Mas o que seria da vida sem estes momentos,
já que só assim algo consigo sentir
da essência de um Romeu não português?

São dádivas - os sentimentos
que me amparam na sua fortaleza ...
Apenas flores de eterna beleza.

Lia.