Eu sei. Sempre soube que os versos não eram para mim, apesar
os de ler com aquela vida, aquele brilho no olhar, aquela esperança de algum
dia poder encarnar o papel da Rose, ou até da pequena Julieta. De os viver com
tanta inocência e tanta coerência. Porém, eu sou assim. Apenas uma boémia
sonhadora que gosta de imaginar - cenários impossíveis -, que gosta de fazer da
vida um filme que nunca irá para a bilheteira. É como uma droga que me consome,
que queima lentamente toda a minha sensibilidade. Sinto-me tão bem quando o
faço, sinto que todas as noites alguém adormece a pensar em mim, a pensar em nós.
Fecho os olhos por momentos. Os momentos mais felizes do dia, - cenários impossíveis.
Imagino o seu sorriso, o olhar inquietante, os lábios a viverem e o coração a
palpitar, como se pudesse ganhar asas e voar para dentro do seu coração - cenários impossíveis. De seguida, acordo. Olho ao meu redor e vejo que nada é verdadeiro. Um balde de água
fria. Fico triste, só, sem ninguém, novamente.
E depois começo a sonhar mais uma vez, só para sentir
um pouco de felicidade. Apenas - cenários impossíveis. Só para sentir que esta
vida não foi dada em vão. Eu sei que nascemos para sermos felizes e para dar
aos outros esse tão desejado dom. Eu sei que vivemos para sermos amados e não só
para amarmos. Eu quero voltar a amar outra pessoa, mas os seus versos são a
minha corrente. Perdi tudo – as asas, o coração – apenas para ouvir um pouco da
sua voz interior. E, apesar de saber que, se continuar a viver assim não terei
hipóteses de sobreviver, prefiro viver o pouco tempo que tenho a imaginar - cenários
impossíveis...
Lia
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