sábado, 31 de março de 2012

Para um pai muito especial ..

Era uma vez uma rapariga que habitava com a sua mãe, numa pequena aldeia, nos arredores de Klagendurt, uma cidade Austríaca. A menina perdera quase toda a sua familia na grande guerra, na primeira guerra mundial: os seus irmãos (a sua fonte de alegria), os seus primos e tios (os seus confidentes) e o seu pai (a sua esperança). A rapariga, por quem todos a apelidavam de Sophia, sentia-se muitas vezes sozinha, abandonada por todos, e os seus amigos, se assim o chamassem, tratavam-na com desprezo. Quando a viam, as suas faces enrugavam-se com uma amarga desilusão, como se a rapariga fosse a culpada de tudo o que lhe acontecera. Como se a rapariga fosse alguém diferente dos outros, ou simplesmente ninguém. Como se ela nada mais pudesse fazer pelo mundo, por ninguém. Nada de nada.
A sua sentença estava escrita: sem o seu pai para a proteger, e com a sua mãe sempre mergulhada nas drogas, envolvida na fúria dos loucos anos 20, Sophia não teria meios para suportar as despesas dos seus estudos superiores. A rapariga tinha um grande sonho, quase impossível, talvez. Já tinha ouvido falar da grande indústria cinematográfica de Hollywood, das grandes estrelas que ali nasciam, da música, do som, da cor que aquele mundo tinha comparado com o grande ruído em que ela vivia… Porém, por mais cores que aquele sonho tivesse, seria sempre impossível de se concretizar: uma corrida perdida, uma esperança esquecida.

Um dia, quando a menina passeava nas ruas já preparadas para a potência alemã, a doce inocência da criança relembrou momentos já bastantes esquecidos pelo horror da vida. Relembrou as esperanças, os sorrisos, as alegrias das memórias do seu querido pai. Até que encontrou uma pequena saqueta de toalhitas de limão… Sophia não fazia ideia do que se tratava, pois nunca fora almoçar nem jantar a um restaurante de marisco. As palavras inseridas na pequena bolsa branca com um desenho de um limão cortado, estavam numa lingua estranha, nunca antes lida por Sophia. Porém, antes de morrer, o seu pai ensinou-lhe um pouco de todos os idiomas da Europa. Aquele parecia Português ou Espanhol, mas muito diferente dos que se usavam naquele tempo.
Rapidamente, a rapariga pegou no saquinho e observou o seu conteúdo. Nesse momento, a saudade do seu pai escorreu-lhe pela face, e, sem palavras para agradecer a Deus pelo que tinha encontrado, limitou-se a chorar.
E aí, ela descobriu que nunca esteve só.
Lia.

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