domingo, 11 de agosto de 2013

A rapariga do cabelo azul


Era uma vez uma rapariga que tinha o cabelo azul. Era sedoso, bastante longo, um pouco que celestial, estranho, curiosamente diferente. E, para os outros, uma aberração. Nunca nenhuma rapariga de qualquer reino deste mísero planeta tinha nascido com tal cabelo. O que as pessoas desconheciam era o facto daquela "tamanha horrorosidade" ser a fonte dos poderes da menina. Era com o cabelo que ela coordenava a sua caravela, a sua casa, por onde navegava pelas águas calmas de Atlântida, à procura da sua alma.
Muitos diziam que era pirata, outros que era bruxa. Então, um dia, um pobre e bom aldeão ousou perguntar-lhe o porquê da cor do seu cabelo, que tanto contrastava com a sua face branca e invulgar, sardenta e simples. Amorosa e incompreendida.
- Ao certo, não sei porque nasci assim. A minha mãe tinha o cabelo mais negro que a noite e o meu pai ousou possuir os primeiros raios de sol da madrugada. Porém, de algo estou certa. A minha casa é o mar e o céu. Por isso, o meu cabelo é da cor do horizonte. Tão bravo e tenebroso como o mar, tão simples e tranquilo como o céu. Oh... É tudo. É a escuridão da minha mãe e a luz de meu pai. É o meu lar, a minha vida, o meu encanto. A minha paixão, o espelho do meu olhar. O espelho da minha alma. Contudo, é demasiado confuso para mim. Nem eu sei quem sou. Ainda não fiz a minha escolha. Posso ser céu, posso ser mar.
De seguida, ao ouvir a rapariga, um conde que lá morava perto do cais onde ela tinha pousado, decidiu (para espanto de todos) falar com a menina. Sim, estiveram toda a tarde a conversar sobre arte e filosofia de tal modo que, no primeiro abraço da lua, o jovem, rico e elegante, a convidou para o baile que iria decorrer naquela noite. A menina não hesitou em aceitar o convite, nunca ninguém tinha sido tão gentil para com ela.
E entraram no salão. Tal beleza tinha uma grandiosidade de brandar aos céus. Porém, quando a rapariga entrou em cenário tão rico, todos começaram a cochichar por causa do seu cabelo. Mesmo assim, os dois novos companheiros bailaram ao som de Beethoven. Que noite estrelada que estava! Que sonho, poder estar assim, diante de pessoas normais... Diante de alguém que a aceitava.
Infelizmente, um dos amigos do conde, que outrora lhe tinha chamado de aberração, pegou na sua espada e atravessou-a no corpo da rapariga. Então, ao vê-la caída, os olhos do conde começaram a lacrimejar.
- Não! Não me pode abandonar, minha senhora!
- Não se preocupe, está tudo bem. Já estava na altura de escolher entre o céu e o mar. Agora, finalmente sei quem sou.

Lia.

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