quarta-feira, 3 de abril de 2013

Ilusão


 O planeta onde habito é bastante bonito... principalmente na época de framboesas em abundância que inundam a floresta com o seu cheiro doce e tranquilo, confundindo assim a claridade imunda de lua cheia com um toque avermelhado. Aqui, tudo funciona de uma forma diferente... Quanto mais novo és, mais anos carregas sobre ti. Os Verões são gélidos e chuvosos, as Primaveras cheiram a morte sob os campos silvestres, e no Inverno o nosso sol queima todo o hemisfério sul - as terras áridas e inabitáveis de cá.
Eu, porém, vivo numa ilha rodeada pelo oceano cinzentos e por correntes perigosas (Mares revoltos que já várias vezes engoliram os barcos carteiros que por cá costumam passar)... A minha ilha não tem cheiro a framboesa, mas sim o cheiro temível da Primavera. A minha ilha é a mais perigosa, e a mais horrenda de todas as outras, pois é a que está mais perto do sul.
Sinto-me mal aqui. Quero conhecer o mundo, as maravilhas de que tanto falam as tripulações. Estou cansada da mesma rotina, dos ensaios filosóficos sobre a minha existência, da minha alma que nunca pude conhecer verdadeiramente, do tédio ensolarado ao beber o chá da minha consciência. Imagino.me como a lua. Ela é a fonte do planeta, porém, tem de morrer todas as noites para o sol poder ressuscitar e matar tudo o que estiver ao seu alcance. Porque tenho eu que morar aqui, nesta ilha de lástima, miséria e tristeza se posso ir para o verdadeiro planeta das maravilhas, com todas as framboesas, geadas gloriosas e pessoas com coração? Eu não tenho coração, foi-me arrancado pelo sol! Queimado vivo, como se fosse algo mau e mesquinho! Eu não compreendo esta ilha... Eu não me compreendo a mim. Sou apenas um pouco de lua exilada, que não murmura pelo crepúsculo, pois perdeu toda a esperança de algum dia ser mais que isso. Por isso, gostaria de endoidecer... assim talvez o meu mundo fosse modelado de verdades feitas pela maior magia de todas - o sonho.
Há cá dentro um sonho que quer falar e não pode, preso e mudo pelo poder do pesadelo - grandes cavalos pretos, robustos mas moribundos, que nos conduzem para a morte.

Ouço um ruído estranho no armário, aberto pelo desejo insaciável do pequeno almoço... 
Espera! 
A chávena, ela move-se! 
Oh... Isto vai de mal a pior, acho que enlouqueci mesmo! 
Mas... há algo lá dentro, algo... que brilha bastante? 
Oh sim, o Universo! 
Tenho o universo dentro da chávena? 
Ok, definitivamente ando a sonhar demais. 
Mas parece tão real!
Toquei, senti... O sonho, tornou-se realidade... O sonho! 
Será um portal? E eu que pensava que o único Deus seria o sol infernal e miserável!
Toquei outra vez... e caí.

Onde estou? Que cheiro a framboesa é este? E este mar! Este mar é azul, o mar dos teus olhos. Já encontrei a minha alma...  estava no país do teu amor - E assim me desprendi das correntes perigosas, simplesmente porque um dia, curiosamente encontraste os restos do meu coração.

Lia.

4 comentários:

  1. hey, muito obrigado , sou novo por estas andanças ainda ... gostei de ler o teu e sê bem vinda ao meu sempre que quiseres . beijinhos

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  2. eu adicionei-te no msn para trocar ideias ou para me ajudares e dares algumas opiniões mas não te vejo on, podes responder po meu blog ? *

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  3. nao te encontrei s: adiciona-me https://www.facebook.com/RicardoFilipeHarlemShake?ref=tn_tnmn (: beijinho

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