O mundo deles é
horrível, imundo, incompleto, falso, mesquinho! Ora, o meu é muito melhor. Ao menos, no
meu existem sempre finais felizes, pessoas em quem posso confiar… Lá, chorariam
por mim se eu morresse, sentiriam a minha falta! E, para além do mais, o meu reino é o mais bonito de todos… As bagas de framboesa inundam o jardim do
meu castelo, e as planícies verdejantes libertam o odor a orvalho, a verdadeira
fragrância da vida. É um mundo de inspiração. Um mundo onde posso voar.
Por vezes, penso em ir-me embora. Simplesmente, sair pela
porta e nunca mais voltar.
Hoje, depois da escola, poderia ter ido a tantos lugares diferentes...
Poderia ter feito tantas coisas diferentes… Poderia ter apanhado o avião para
França e lá escrever um qualquer romance fatela. Poderia ter apanhado um
qualquer cruzeiro para Nova Iorque, poderia ter aproveitado lá as grandes
noitadas na cidade que nunca dorme, as esperanças nunca perdidas e as grandes
luzes de vida e de paixão. Poderia ter apanhado meramente um táxi para o
Algarve e ter dormido por lá. Poderia ter-me atirado de uma pequenina ponte e
ter experimentado a sensação de poder voar.
Hoje, poderia ter ido para o meu mundo. Poderia lá ter sonhado, ou apenas ter deixado uma esperança, um sussurro. Uma paixão.
Hoje, poderia ter subestimado os teus lábios de cor de insanidade.
Oh… poderia ter feito tanto. Porém, acabo sempre por ir para casa. Para o lar.
Para a mórbida segurança.
Lia.
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