quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Naufrágio


E ali o homem naufragou
na gruta profunda de um mar perdido.
Gruta de paz? Mar de calma?
O grande buraco na sua alma
que tal como o mar fora esquecido.

Três dias num pequeno bote ele ficou,
três vezes a mísera vida ele salvou
e, no final do terceiro dia
finalmente terra ele encontrou...
Deus deu-lhe alguma alegria
mas o demónio até a terra lhe tirou.
Haviam árvores de cores celestiais,
fluorescências excêntricas pelo lago de saudade,
fruta que apodreceu pela própria realidade,
e tudo fora um sonho, pois riquezas tais
apenas existem na mente de um pobre com ansiedade.

Rios calcou até cair de dor
provocada pelo seu mais puro amor.
O mar não chorou, nada lhe deu.
Então, o pobre homem olhou para o céu.

"- O que queres mais, Deus sem coração?
Alá, Jesus... és apenas uma ilusão!
Tudo me tiraste, que queres mais de mim?!
Porque não me deixas, porque não me dás um fim?..."
E logo caiu do céu um raio de paixão
mas na fossa mais profunda o homem encalhou,
esquecendo-se do raio e de quem o ajudou.

Lia.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Estrela


Uma nova estrelinha eu encontrei
mas ela não quis saber de mim.

Passado! Mágoa! Que perdido coração...
Não vale relembrar tantos dias de ilusão.
Não vale chorar pelo passado que passou,
não vale viver do amor que folgou!

Oh... E uma a uma as estrelas apanhei,
guardei-as bem guardadas neste coração.
Pensei que seria feliz, que viveria, pensei
ao ter uma estrela que me cantasse uma canção.

Então, uma nova estrelinha no céu eu encontrei
pois a todas as outras eu não dava emoção
mas ela não quis saber de mim
e a morte me deu antes do fim.

Estrela, estrelinha... Para quê o teatral?
Para quê tanta bagunça se és alguém que me faz mal?

Passados meses outra estrela encontrei
mas dela eu não quis saber.
Bem aprendi com a sua irmã
que não vale a pena sofrer.

Lia.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

As asas crescem devagar



Sem nada mais aqui para te dar
fiz-me à estrada para me poder encontrar.
Sem amor, sem culpa, sem sonhos, sem fim,
decidi conhecer a alma que há em mim.

Que surpresa... flores a desabrochar
e vidas tiradas por este bravo mar!
É o mar revolto que existe dentro de mim
num tamanho exílio que ousa não ter fim.

Sou utopia, sou boemia e calma...
Sou a morte que existe na tua alma.
E na estrada eu percebo porque não quero ficar,
porque as asas se limitam a crescer devagar.

É triste, surdo, o barulho deste mar
que nunca fora limpo, este azul do teu olhar.
Que mais posso eu querer? Espero por morrer
para que, um dia, me possas perdoar.

Gosto de desaparecer, de à estrada me fazer
porque a estrada realmente sabe quem sou.
Oh. Diva. Vida? Porque me fizeste sofrer
se a estrada desprezada nunca me julgou?

Lia.

domingo, 11 de agosto de 2013

A rapariga do cabelo azul


Era uma vez uma rapariga que tinha o cabelo azul. Era sedoso, bastante longo, um pouco que celestial, estranho, curiosamente diferente. E, para os outros, uma aberração. Nunca nenhuma rapariga de qualquer reino deste mísero planeta tinha nascido com tal cabelo. O que as pessoas desconheciam era o facto daquela "tamanha horrorosidade" ser a fonte dos poderes da menina. Era com o cabelo que ela coordenava a sua caravela, a sua casa, por onde navegava pelas águas calmas de Atlântida, à procura da sua alma.
Muitos diziam que era pirata, outros que era bruxa. Então, um dia, um pobre e bom aldeão ousou perguntar-lhe o porquê da cor do seu cabelo, que tanto contrastava com a sua face branca e invulgar, sardenta e simples. Amorosa e incompreendida.
- Ao certo, não sei porque nasci assim. A minha mãe tinha o cabelo mais negro que a noite e o meu pai ousou possuir os primeiros raios de sol da madrugada. Porém, de algo estou certa. A minha casa é o mar e o céu. Por isso, o meu cabelo é da cor do horizonte. Tão bravo e tenebroso como o mar, tão simples e tranquilo como o céu. Oh... É tudo. É a escuridão da minha mãe e a luz de meu pai. É o meu lar, a minha vida, o meu encanto. A minha paixão, o espelho do meu olhar. O espelho da minha alma. Contudo, é demasiado confuso para mim. Nem eu sei quem sou. Ainda não fiz a minha escolha. Posso ser céu, posso ser mar.
De seguida, ao ouvir a rapariga, um conde que lá morava perto do cais onde ela tinha pousado, decidiu (para espanto de todos) falar com a menina. Sim, estiveram toda a tarde a conversar sobre arte e filosofia de tal modo que, no primeiro abraço da lua, o jovem, rico e elegante, a convidou para o baile que iria decorrer naquela noite. A menina não hesitou em aceitar o convite, nunca ninguém tinha sido tão gentil para com ela.
E entraram no salão. Tal beleza tinha uma grandiosidade de brandar aos céus. Porém, quando a rapariga entrou em cenário tão rico, todos começaram a cochichar por causa do seu cabelo. Mesmo assim, os dois novos companheiros bailaram ao som de Beethoven. Que noite estrelada que estava! Que sonho, poder estar assim, diante de pessoas normais... Diante de alguém que a aceitava.
Infelizmente, um dos amigos do conde, que outrora lhe tinha chamado de aberração, pegou na sua espada e atravessou-a no corpo da rapariga. Então, ao vê-la caída, os olhos do conde começaram a lacrimejar.
- Não! Não me pode abandonar, minha senhora!
- Não se preocupe, está tudo bem. Já estava na altura de escolher entre o céu e o mar. Agora, finalmente sei quem sou.

Lia.